
Dormi pensando em algumas camisetas ou camisas que usei para dormir, emprestadas de algum bofe, claro. E em como nunca ouvi um oferecimento espontâneo "quer uma camisa para dormir?". Talvez tenha escutado alguma vez, mas deve ter sido tão raro que não lembro. Sempre acreditei que eles adorassem nos ver vestidas com suas camisas, mas não tenho comprovado muito na prática. Eu gosto de vestir suas roupas, desfilar pela casa com uma camisa arremangada, as bordas tocando levemente meu púbis e as nádegas e deixá-lo acreditando que ficam melhor em mim do que nele. A verdade é que acho extremamente erótica a sensação de estar com a roupa dele, a camisa sobre minha pele nua, a calcinha é opcional. O tecido que tocou a pele dele roçando de leve os mamilos e as costas, nossa, me deixa mais bêbada que um litro do meu amado Jack Daniel's, não no sentido alcoólico, mas físico, químico e biológico. É como se dormisse com o toque dele intensivamente, leve, etéreo. Como se sua boca não houvesse abandonado meu corpo, se suas mãos estivessem permanentemente aliciando meu desejo.
Com sua camisa sinto um poder quase sobrenatural, como se pudesse tudo, se estivesse em todos os cantos de seu pensamento. Imagino o que ele pensará ao vestir a camisa ou camiseta em algum outra ocasião e lembrar que meu corpo já esteve tão bem embalado pelo tecido que agora toca a sua pele. Vejo um sorriso leve em seu rosto ao lembrar do cheiro de minha pele impregnado, quando abandonei a camisa em cima da cama ao vestir minhas roupas. Imediatamente ele deve lembrar de como deixamos outros tecidos, dessa vez dos lençóis, revirados, espalhados pelo colchão ou até pelo chão e das nossas pernas enroscadas para dormir. Ah, quanto tempo faz que não sei o que é isso. Um intimidade indecente, luxuriosa, sexual, profunda, inebriante. Toques sutis, suaves, quase intangíveis, mas que marcam a pele como um carimbo tatuado, atestado de propriedade subliminar. Luxúria em grau máximo sem trocar um fluído sequer. Os melhores toques sexuais são exatamente aqueles em que não se toca, se insinua.
Usar a camisa do bofe é como um pacto de sexo e intimidade. No momento em que usamos uma peça de roupa do gostoso espécime masculino à nossa espreita estamos selando um acordo com ele: sim, estamos ligados. Não com rótulos ou promessas clichê, é um acordo tácito para que empreste novamente a camisa, que sinta meu cheiro nela quando for embora e lembre de mim ao usá-la, mesmo que já tenha sido lavada e usada tempos depois. Quero que sinta minha pele ao vestir a peça de roupa, que lembre das minhas nádegas rebolando suavemente ao caminhar, dos seios impressos debaixo do tecido. Quero que pense em mim, imagine cada momento maluco e perverso vivido na cama, no sofá, na mesa, nas cadeiras. É um acordo de desejo mútuo, de pensamentos depravados e malucos. Um acordo de desejo e carinho, quem sabe, de amor.
Sinto falta de usar uma camisa masculina para dormir, acompanhada, lógico. Falta dessa intimidade indecente que marca o dia e a noite, os sonhos, tudo. Sentir os pelos das pernas masculinas roçando as coxas e o hálito quente na nuca é de suspirar e sonhar acordada. Quero você e quero agora. Quero suas camisas, camisetas e qual peça há em seu vestuário, quero todas. Vestir suas camisas e jogar suas calças e cuecas pelo chão do quarto, esparramadas em um desordem sexual e visceral, quero suas meias perdidas em algum canto qualquer, seus sapatos separados. Quero você me agarrando com suas mãos e prometendo em seus olhos que essa cena se repetirá sempre, sem pressa, mas com fome. Quero você, meu lindo estranho. Me roube, leve ao cenário perfeito para uma loucura devassa. E empreste sua camisa. Ela ficará melhor em mim.
publicado originalmente em www.papodemulher.blog.br
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