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Mostrando postagens de agosto, 2014

O meliante

Ela foi sequestrada por um meliante de boa aparência, à meia noite de um dia qualquer, com aviso e antecipação. Devidamente embriagada pelo vinho e o cheiro do sequestrador, sentia um frisson por seu corpo, arrepio em sua pele e algo mais que não saberia definir. Encarcerada no automóvel do meliante, ela não queria fugir, abrir a porta ou outra loucura qualquer. Sabia que daquele dia em diante, não teria mais volta, os sequestros seriam parte de suas noites e dias, provavelmente, intermináveis dias, seguidos por intermináveis noites. Talvez, a maior loucura seria a que seu coração e seu sexo antecipavam: submeter-se à horas e horas de submissão e tormento pelas mãos, boca e sexo do terrível sequestrador. Ansiava por isso. Ele era doce e sombrio, ao mesmo tempo. Falava muito, mas agia sempre. Via em seus olhos que gostava de ter o poder sobre ela, experimentava suas reações. E ela se entregava a cada uma delas, cada tortura, cada toque, cada investida em seu sexo. Ela sentia um

Mosaico

São muitas Eu se debatendo na minha existência, como a Eu sarcástica, a Eu decidida, a Eu sombria, a Eu questionadora, a Eu rebelde, a Eu durona, a Eu intuitiva, a Eu bruxa, a Eu baladeira, Eu caseira, Eu cinéfila, Eu roqueira, Eu dona-de-casa, a Eu impulsiva, passional, incontrolável, intransponível, todas facetas de uma personalidade complexa. Mas, nos últimos tempos, uma Eu que sempre escondi (e ainda escondo) tem sobressaído entre tantas, a Eu que carrega uma sensibilidade pulsante. Essa parte de mim tem exigido passagem com toda a força e faz com que sinta uma melancolia inexplicável aos domingos à tarde. Uma vontade de nem sei o quê, uma necessidade de ser compreendida sem palavras, apenas por um abraço e o silêncio reconfortante. Nesse mundo moderno, que é um imenso açougue de carne fresca e sexualmente disponível, ter um coração que pulsa parece ser passado e atitude de gente fraca. Nesse mundo que fala muito e diz pouco, o silêncio angustia. Como se sexo puro e simples e

Ao amor que não aconteceu

De alguma maneira, penso em como seria. Você também sabe que seríamos bons, possivelmente ainda estaríamos nos agarrando por aí,  assistindo filmes em minha sala, trocaríamos impressões sobre as bandas que conhecemos ou apresentamos um ao outro, sobre os livros que lemos. Você acompanharia meu entusiasmo pelos personagens de HQ, ficaria ansioso comigo pelos lançamentos cinematográficos. Dói. Nos fazíamos felizes, você sabe disso. Embirrávamos um com o outro, dois teimosos, dois ciumentos, dois malucos, dois juntos. Você olhava para a Lua comigo e entendia minha devoção para ela. Passeávamos a esmo, riamos por nada, gostávamos do nosso silêncio. Eu me irritava com as conversas pela rede social, o deixava sem respostas, na verdade, sumo sem dar satisfações. E você nunca desistia, sempre me procurava, mesmo ficando inseguro com o meu jeito de ser. Lembra uma vez que fiquei duas semanas sem responder você? Esperou passar o que quer que tivesse me irritado e conversou comigo sem ques

Você que espera de mim o que nunca farei

Uma constatação meio óbvia sobre os relacionamentos modernos é que homens estão mulherzinha e mulheres estão nem sei como. Na verdade, acredito que ambos estamos perdidos em relação um ao outro, mudou tudo tão rápido que os meios termos, as aproximações sem rumo, a falta de objetividade tomou conta. Atitude no sexo sem atitude na vida e na aproximação um do outro. Uma vez, estava de test-drive de namoro com um moçoilo aí e ele deu chilique, sumiu uns dias. Quando apareceu, depois de três dias sem noticias, disse que precisou se afastar um pouco para avaliar o que realmente sentia. Ótimo, avisei que não tenho paciência para esse tipo de comportamento e que minha postura, nesse caso, é ignorar a existência da pessoa e, se tiver vontade, procuro depois de uma semana ou mais com meu costumeiro sarcasmo. Precisava ter tirado foto do olhar que me lançou, parecia que ouviu uma história de horror... Escapa à minha compreensão como várias mulheres engatam romance com esses homens de