Escuto histórias de amigos de que o
casamento ou o namoro desandou de vez por causa do sexo ou da sua ausência. Que
a mulher não queria dar mais ou que nunca foi lá essas coisas, mas que, no
início, ele não se importava. Mas o tempo veio e com o tempo questionamentos e
insatisfações. As amigas se queixam do desinteresse ou preguiça do homem e por
aí vai. Eu sempre discordei disso. O sexo (ou a
falta de), em uma relação NUNCA é o problema, mas seu principal e perturbador
sintoma. Antes do sexo desandar de vez ou alguém encher o saco há várias
situações que se descortinam aos seus olhos e você, cego-mor, por pura covardia
ou medo de jogar tudo para o alto e ficar só, não quis enxergar. Nem todas as
relações começam por amor, entenda bem, muitas são reflexo de uma carência,
neurose ou posicionamento perante à sociedade, afinal, apesar do mundo
“moderno”, as exigências sobre as mulheres e os homens são disfarçadamente
parecidas com antigamente. Pode jogar pedra, mas questione se, em seu íntimo,
você nunca se acomodou por puro medo de ficar sozinho(a).
Posso falar sobre o
assunto, já passei por isso, até gostava do sexo no início, embora tivesse uma
incômoda sensação no peito de que faltava algo. O tempo foi o sereno
conselheiro para que percebesse que faltava mais do que algo, faltava o
essencial: amor. Piegas? Não. Piegas é você aguentar alguém que não lhe
compreende porque algum idiota disse isso, que melhor do que estar solteiro e
feliz é ter uma relação infeliz ou tentar resolver seus problemas inconscientes
através de uma relação que não irá lhe satisfazer. Dois perdidos em uma relação
sem alma, sem rumo. Uma história que até pode ter começado com empolgação, mas
logo veio a realidade, não foram feitos um para o outro. Quer seja por ambos
tentarem curar uma dor de cotovelo, por querer ter alguém ou por uma projeção,
enfim, começou em uma cama de pulgas. Algumas pessoas constituem família em
relações assim, fico com pena dos filhos dessas criaturas. Não tenho medo de que alguma senhora me
pergunte o motivo de ainda ser solteira. Simples, prefiro uma grande parceria a
um morno lugar-comum. Prefiro sexo com entrega, com vibração do que apenas
sexo. Sintonia, entendimento, compreensão em uma relação não é fácil, nem um pouco.
Difícil assumir que escolheu errado ou
que você mudou tanto que aquela criatura não lhe diz mais nada. Assumir que
quer mais da vida, mais de si e de alguém que se dispuser a compartilhar sua
cama e seus fluídos, espalhar os aromas sexuais por um quarto ou outro aposento
qualquer, quem sabe o banco de trás de um carro em uma rua movimentada da
cidade, não importa. Difícil assumir que é muito mais do que apenas sexo, que é
afeto, entrega, parceria. Que você não quer olhar para fora e perceber que
dentro de seu lar é um vazio afetivo, uma guerra fria, o ar é tão pesado que
pode ser cortado com uma lâmina. Que você não se sente à vontade onde deveria
ser seu refúgio: sua casa. E descobre que sexo e casa são palavras apenas se
não vierem acompanhadas do principal, que é o amor. Esse sim, um artigo raro de
encontrar e que transforma qualquer barraca de camping em um lar de verdade e o
sexo na melhor alquimia desse mundo. E dos outros, também.
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