Descobri que é aos sábados que a saudade grita no peito da gente, tomando conta do nosso pensamento. É quando não há trabalho ou qualquer outra atividade para ocupar nosso tempo que essa saudade assola o peito, gritando, chamando. A saudade tem um rosto, nome, voz, pele e corpo, transfigura-se em forma, som e movimento. E chamo por esse nome, meu coração anseia por ele. A saudade tem uma alma que entende a minha, que tomou conta dos cantinhos mais remotos do meu coração. E é sábado à noite que ela vem como uma ventania e deixa uma turbulência no peito. Levanta as teias mofadas do esquecimento e revira o corpo, a alma, os pensamentos, tudo. Saudade molha os olhos, mistura tristeza e alegria. Saudade é de longe o sentimento mais confuso que experimentei.
E a saudade personifica-se em um homem. Saudade é uma presença muito forte, deixa meus sentimentos ainda mais vívidos. Nunca havia prestado muita atenção à esse fato, de que saudade pode ter nome, sobrenome e endereço. Que a saudade é como uma borboleta ruflando de leve suas asas em nosso pensamento, em nossa face. Que a saudade pode repassar um filme em nossa cabeça, dar vida à lembranças; pior que isso, saudade pode fazer sonhar. E são esses sonhos os mais doídos. Não quero lembrar e nem sonhar, mas é impossível não ouvir a insistente campainha dos meus pensamentos. Tudo por causa de um homem feito de ondas e maresia, de gelo e de fogo, de teorias e sentimentos, de sensibilidade e força.
Quase posso sentir a presença dele, é uma sensação muito forte. Parece que ele me chama. Se eu não tivesse a absoluta certeza de que seria loucura, acredito mesmo que ele esteja pensando em mim. É estranho explicar, talvez seja só um fenômeno da saudade, uma fantasia. Mais um motivo que reforça como a saudade é um turbilhão confuso. E, ao mesmo tempo, deixa um aperto no peito. Já havia sentido saudade antes, mas dessa vez está mais complicado. Apesar de eu saber que a decisão de não encontrar mais com ele foi a melhor, ainda assim é impossível não pensar que nós seríamos bons juntos. Aliás, muito bons. É impossível não lembrar daqueles olhos me tragando para dentro dele, daquela voz quando conversávamos. Reler nossos papos nas redes sociais só me deixa mais roída de saudade. Estranho também é que não me entristeço, é como se ele estivesse aqui. Dentro do meu peito. Ele se instalou com suas mochilas e o ar de poeta desgarrado em meu coração, virou meu inquilino.
Como diz a letra da canção da banda Kid Abelha, ninguém me explicou na escola, ninguém vai me responder (Educação Sentimental II). E tudo começou quase como uma brincadeira, quase sem querer. Nem eu ou ele imaginávamos que poderia ser assim. Há momentos em que me pergunto se esses não são os de verdade, aqueles em que surgem pessoas realmente únicas nas nossas vidas. Se não há um desperdício de tempo e energia em ter medo, em ser covarde, em se refugiar nas cavernas inacessíveis em que nossas sombras habitam. Se não seria melhor simplesmente ouvir o coração (que, para mim, é o mesmo que a intuição) e seguir nossa vida conforme nossos desejos. Um amigo psicólogo falou, há muito tempo, para mim e uma amiga, que a pior traição, é trair nossos desejos. Acredito que ele quis dizer vencer o conformismo, o medo e as travas que não nos levam a uma vida rica em experiências.
Saudade, no meu caso, tem nome. E tem lembranças, vontade, medo (muito medo). Porque sei como poderia ser, sei que poderia amar esse homem, algum dia. Acredito que essa saudade dói mais porque sei como seria nós dois. Ao mesmo tempo em que tenho muita raiva dele, que quero esquecer. Confuso, não? Pois é, para mim, é novidade. Ainda não entendi os mecanismos complexos dessa saudade e nem onde vai me levar. Mas, vocês podem ter certeza, se os ventos soprarem ao meu favor, conto tudo. E conto bem alto, que minha felicidade grita. Até o próximo sábado à noite, Saudade, nos vemos por lá.
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