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Mostrando postagens de dezembro, 2014

A difícil arte de se relacionar a dois

Esqueça as borboletas no estômago, as ufanias, a insensatez e a loucura. Esqueça conto de fadas, afinal, nem você é uma princesa e nem ele será um príncipe. Esse não é um reino e a magia nada mais é do que viver a realidade plenamente, sem esquecer da poesia de estar vivo. Mas amar é bagunçar, sim, de uma maneira diferente de atormentar e desconstruir, é uma revisão de como você sempre viveu. Amar é crescer. Amar é olhar para si, mas perceber o outro. Talvez, por isso, em princípios de relações, uma pessoa se sinta tão perdida, tão em dúvidas. Absolutamente insegura e sem saber como agir. Amar, talvez, seja como renascer. Essa pode ser a explicação por nos sentirmos tão atordoados e até um tanto infantis quando os primeiros acordes de uma canção inaudível aos outros mortais ecoe em nosso coração. Cada início é meio torturante, atire a primeira pedra quem nunca agiu como um maluco nessa fase (mesmo que jamais admita ou o tenha feito escondido). Somos quase que completos imbe

No próximo ano, lambuze-se

Os votos dessas festas de final de ano são iguais e repetidos ad infinitum mundo afora pela sua família, vizinhos, amigos, desconhecidos, desconfio de que até os mortos os repetem em seus túmulos. Blábláblá sem emoção jogado ao vento e nos ouvidos incautos de quem foge dessa hipocrisia morna e irritante. Portanto, serei sincera: desejo que nesse próximo ano, você se lambuze. Fique com o rosto sujo e a alma respingada pelo lambuzo. Descasque uma manga e coma sem cortar em pedaços, sinta o suco escorrendo pela sua boca, as mãos meladas. Lambuze-se. Vá mais vezes à pracinha de brinquedos com seus filhos e se lambuze de areia, sujeira e amor. Abrace sua mãe e seu pai, faça mais brincadeiras irônicas com seus irmãos, evite a irritação com comentários alheios. Lambuze-se de tolerância. Sinta que você pertence a você, mas permita que alguém se lambuze de você. Permita que se lambuze com suas palavras, seus gestos, suas atitudes, seus olhos, seu corpo. No próximo ano, lambuze-se de

Procuro seus pedaços em alguns inteiros

Parece loucura, parece volubilidade, parece carência, parece que meu sentimento é vão. Clichê total, sei disso, por favor, me permita a breguice de sentir sua falta cada vez em que dobro a esquina, que vejo alguém parecido com você, que lembro das nossas conversas, que penso em saber sua opinião. Deve ser isso ou o juízo me fugiu (se é que algum dia o tive) que faz de mim uma caçadora dos seus pedaços pela cidade. A tatuagem de alguém que lembra a sua, um homem com a sua altura e estilo, outro que trabalha na mesma área, outro que conversa um assunto que remete a você, os enfileirados, um após outro, que surgiram com seu signo, atormentando minha vida. Aquele cujo signo é o mesmo do seu lunar. Sim, lembro de tudo, até porque, nem faz tanto tempo assim. Mesmo que fizesse, sua ausência é uma desgraça, está em cada passo que dou, em cada retorno para a minha casa, em cada vez em que deito e sinto sua falta. Você está em mim e em algum lugar por aí. O coração pula enlouquecido e

O conquistador de Padaria (ou Norman Bates)

É um sujeito todo certinho, mesmo que não aparente. Provavelmente, caminhe como se estivesse na eminência de defecar, embora não o seja. Abre a porta da padaria para você passar, cede o lugar na fila do caixa e sempre faz um elogiozinho besta. Você, de início, até responde, agradece, conversa com ele até a quarta ou quinta vez em que se encontram. É aquele tipo que sugere o pão mais fresco, o melhor amaciante e até abraça sua avó com carinho. Todo santo dia dá bom dia (ou boa tarde ou boa noite) no mesmo tom de voz, faz as mesmas perguntas e usa a camisa abotoada até o pescoço ou, então, de maneira que pareça estar enforcando. Parece tão certinho, tão engomadinho, tão, tão... Assustador (tipo o Norman Bates, lembram de Psicose?). A quinta ou sexta vez em que conversa com ele, começa a desconfiar de tanta solicitude, daquele tom monocórdio de voz, daquela Síndrome de Pollyana (a história de uma menina tão, mas tão boazinha que apanhava da vida e sorria), daquela educação toda. As p

As grandes amizades

Uma postagem minha, numa dessas tantas redes sociais, rendeu uma conversa inspiradora com uma amiga muito querida que tem a história de vida bem parecida com a minha, sobre como a amizade se dá mais pela ocasião do que por afeto. Que muita gente é egoísta, procura apenas quando vê necessidade ou quando está sozinha, isso sabemos, mas o comportamento de várias dessas amizades atinge o absurdo. Sabotar futuros relacionamentos, enciumar-se de alguma outra amiga, cobrar atenção quando quem sumiu foi a pessoa em questão, comparar-se, enfim, tantas atitudes sem motivos e sem noção que nem sei descrever. Gente que agradece aos amigos que tem, sentados em volta de uma mesa, num bar e bebendo muitas cervejas, isso é lindo. Quero ver esses mesmos "grandes" amigos procurar em casa, quando a pessoa está sozinha ou com algum problema. Lógico que não serão seus amigos, a finalidade é essa mesma, apenas diversão e banalidades. Há situações que acontecem na nossa vida que são um tap

Rima

Na inquieta solitude do Destino, me encontro e sublimo Na escura hora do meu abismo, plano e mergulho Na perdida canção do passado, não me reconheço Busco (alguém) a mim, ninguém Perco a alma, o juízo Me desfaço do bom senso, agonizo Desfibrilo, acordo, comatizo Puxo meu cérebro, esqueço o coração Encontro minha sina Adrenalina que agita Grito na janela, abro a porta Ponho a goela A língua treme, a boca vocaliza Você monopoliza minha loucura Perco a fé, a cabeça e as chaves Tento a fechadura, o chão e o céu Perdi, você, tergiversei Encontrei meu coração Meu mundo, minha confusão Fugi, sem rastros Queria que estivesse em meu encalço Seu abraço, cheiro Lembranças são o que tenho Desafino, procuro e não acho Essa é uma parte do meu caos O Labirinto em que vivo A arte de ser Eu, você.