Você vai indo, levando em frente aquela relação, acreditando que pode dar certo, que é possível acreditar em futuro para vocês, que ele(a) ainda será mais atencioso, lhe dar mais carinho e com isso, arruma desculpas para as várias lacunas que o outro deixa na relação. E quando você o(a) conheceu pensou que poderia dar certo, afinal, pareciam ter histórias em comum, momentos familiares parecidos, sonhos e planos.Tudo tão adequado e encaixado em sua vida, no que você almeja para o futuro. Mas você não se dá conta de que o futuro é amanhã. E que os amanhãs vão chegando, um a um, suas conquistas profissionais e pessoais acontecem, você amadurece, você começa a vencer algumas limitações emocionais, você conquista algo ali e aqui e vai mudando, evoluindo. E, em algum momento que não consegue definir, aquela relação lhe pesa. Por isso repito tanto a palavra você: é você quem leva a relação. Quando se dá conta de que um caminho de mão dupla não existe e que dá muito de si e recebe bem, mas bem menos mesmo, aquela velha e conhecida frase, tão murmurada entre travesseiros úmidos e salas escuras se repete: isso não é amor.
As relações bolas de ferro são assim mesmo, uma bola de ferro acorrentada à você. Aquela pessoa que poderia ser tudo para sua vida, uma alternativa para seu futuro se revela alguém sem a reciprocidade que você espera. Algumas pessoas são incapazes de amar, outras, não amarão à você. Mas sua bola de ferro jurará amor eterno à você, desde que continue dando muito e recebendo pouco, desde que você a alimente com sua energia. E, em algum momento, você mesmo se questiona o que sente por essa criatura. E é bem possível que a resposta não lhe satisfaça: você, provavelmente, também não tem esse amor todo. Talvez você tenha transferido sua carência para uma idéia e não uma pessoa, talvez tenha se apaixonado pela pessoa que você gostaria que essa criatura fosse, talvez tenha sido a vontade de ter alguém e não a pessoa que lhe envolveu. Muitas hipóteses e uma certeza, essa situação não lhe realiza, não lhe satisfaz. De repente, você não consegue mais arrumar desculpas para as falhas do outro, para as inúmeras vezes que ele(a) lhe deixou carente, vazio. As motivações que foram "inventadas" para o jeito do outro podem até explicar as atitudes dele(a), mas não justificam. Um adulto tem plenas condições de perceber suas falhas e corrigir o rumo, mas não sua bola de ferro, afinal, ela se acostumou a ser arrastada na relação por você, acho até que é assim que ela gosta, é egocêntrica e acredita que só ela merece compreensão e carinho.
Sei que é inútil lhe dizer qualquer coisa, você vai tentando e tentando fazer dar certo, vai se esgotando, cansando daquela pessoa e da vida que tem com ela, mas mesmo assim insiste. Não sei que feitiço essas bolas de ferro lançaram sobre nós, mas acreditamos piamente que são a nossa chance de ser feliz. Feliz? Quem está feliz? Você sabe muito bem que sua insatisfação só cresce à proporção que aquela pessoa vai sendo cada vez mais irritante. Ou será que é você que não aguenta mais? A verdade mesmo é que uma vozinha, aquela, sabe, há muito tempo lhe disse: isso não é uma canoa furada, é um Titanic. Não é uma pessoa certa ou errada, só não é para você. Suas demandas afetivas podem ser exigentes demais e essa criatura pode ter vários diplomas pendurados na parede, um passaporte carimbado em vários países, falar vinte línguas e usar roupas caras, nada disso importa quando alguém é insensível e egoísta. Claro que diferenças culturais podem minar uma relação, mas na verdade, uma relação só é fadada ao fracasso por dois motivos: falta de amor e falta de vontade de fazer dar certo, que tem o mesmo significado na minha opinião. Quem ama se importa, é muito simples. Quem ama quer entender o outro, ser recíproco, quer fazer parte das conquistas, dar e receber. Acredito que quando embarcamos nesse Titanic estamos mais voltados para decisões frias, analisamos um produto e não uma pessoa, um coração. O mais triste disso tudo é que essas relações acabam com nossa auto-estima, roubam nosso ânimo e nossa vontade de viver, mas não percebemos isso, achamos que não nos rouba tanto assim. A boa notícia é que um dia, vem a gota d'água e o balde transborda. Pode ser alguma frase que foi dita, alguma atitude, algum olhar, a enésima ironia, não importa. Um dia maravilhoso e sombrio, ao mesmo tempo, você se pergunta, mas que raios eu ainda estou fazendo aqui, com essa pessoa?
E você acorda, pode ser de um pesadelo ou só de um sonho, mas toda aquela angústia que vinha sentindo há tanto tempo some. E o sofrimento que você acreditava sentir quando rompesse não existe ou não é tão sofrido assim. Claro que é muito difícil romper com um pedaço da sua vida, afinal, quantas experiências você teve e aquela pessoa fazia parte da sua vida, quantas situações. Mas finalmente, você percebeu que não era amor, que não estava satisfeito, que essa parte da sua vida estava falha, oca. Que você pode sim, amar e ser amado com realmente quer, que há gente por aí, querendo o mesmo. Que há alguém que vai lhe fazer feliz, dar à essa parte da sua vida o colorido que você não sabia, mas agora sabe que quer. Que aquela relação não representava tudo isso, que é possível que você estivesse preso aos filhos ou ao fato de ter se acomodado. E, não ignore, pode ser que seu grande e infinito medo de mudar seja responsável. Que você se acomodou, pode ter a vida mais atribulada e maluca do mundo, mas aquela relação era a sua caverna, onde você se escondia, talvez nem você saiba o porquê. A verdadeira caverna de Platão. Onde você se escondia do mundo e de si, dos seus medos e dos seus planos.
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