Sempre fui meio virada do avesso nessas questões afetivas. Tenho implicância com esse romantismo barato e clichê (mesmo que saia caro no final), com as frases feitas e as atitudes cuidadosamente pensadas. Acho que eu te amo é frase de principiantes, de quem não avalia a fundo os sentimentos e diz o chavão para parecer sincero ou cativar alguém. Isso não me cativa, francamente, ouvi de uma pessoa essa frase e me soou metálica como uma moeda caindo no chão, respondi tão metálica quanto. Acho que nem ele sabia o que falava, usou a frase para marcar alguma presença. A verdade é que nem todos sabem o que significa esse tal de amor e tem preguiça de amar. Também não chamo ninguém de amor(tadela), gosto de personalizar o sentimento e não generalizar. Porque o dia em que amar, será a pessoa e não o sentimento, amor é espontaneidade. Lógico que amo minha família, minhas amizades. Mas eles não dormem comigo.
Amor é uma palavra pequena demais para ser descrita, apesar de muitos estereótipos que se fazem sobre. Só sei que vibra cordas no peito, que não dispara o coração e nem faz flutuar. Acho que amar é voar sem sair do chão. Tantas e tantas pessoas confundem esse sentimento com carência, paixão ou qualquer outro não muito profundo. E dizem eu te amo a rodo por aí, amam um num mês, outro no outro e todos os nomes são substituídos por amorrrrr. Quando se ama, se ama a pessoa pelo seu nome, pela sua voz, pelo seu corpo, pela sua personalidade, por seu tudo, inclusive com defeitos. Então, em vez de amorrrrr chame pelo nome ou apelido, melhor, tenha um jeito só seu de nominar aquela pessoa. E uma maneira única de dizer que ama. Eu tenho as minhas e foram usadas talvez uma ou duas vezes na vida, mas lógico que não escreverei quais são, sou boba de entregar o ouro para o bandido?
Costumo dizer que sou uma romântica às avessas, não sou de grandes arroubos retórico-afetivos e ficar por aí, postando em redes sociais ou no que seja. Sou mais das sutilezas, das demonstrações miúdas do cotidiano, do abraço apertado para um aconchego, do beijinho de leve. Gosto de atenções delicadas e faceiras no dia-a-dia, mesmo que sejam depois de algum amuo, nada mais indecentemente íntimo que um olhar sobre pratos, copos, cabeças ou travesseiros, que aquela piada particular que só os dois entendem e sorriem discretamente ao cruzar os olhos. Nada mais íntimo que um casal que se desentende mas se entende, que se abraça vestido e, ainda assim, sente o calor da pele, o suspiro suave no pescoço.
Nada mais íntimo que aceitar que somos imperfeitos, que amamos, mas iremos magoar, que não estamos dentro da cabeça do outro, que precisamos investir sempre no sentimento e na relação. Investir no outro, aliás, elogiar suas qualidades e não fazer dos defeitos motivo para guerra (quando se enxerga mais os defeitos do outro é porque a relação foi para o abismo). Quem se descuida, se perde e perde o outro. Por todos esses motivos, acho que falar eu te amo é perda de tempo, é falta de criatividade e falta de amor. Mais fácil usar essa frasesinha mixuruca do que realmente sentir, demonstrar e viver esse universo de descobertas que é o amor, o verdadeiro vôo no escuro.
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