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Tantos medos e uma caverna



Apesar de escrever sobre arriscar-se e tal, conversas em bares ou com amigas, confesso que sou medrosa demais. Me escondo nessa caverna porque aqui as sombras são conhecidas e até os morcegos me entendem. Aqui é fácil viver, o mofo na parede é o mesmo há anos e a escuridão me é confortável. Minha voz tem eco e isso me faz bem. Não me arrisco, não me arranho, não me parto. Poucas as vezes em que arrisquei, super-bonder nenhum consertou o estrago. Não vou mais me machucar e, pior, admito que minha zona de conforto é adequada. Acho que nunca mudei minha vida por nada e nem por ninguém, mudei um tanto só pela minha mãe, mas mãe merece. Mas sei que se me apaixonar e for correspondida, isso tem que mudar. 

Tenho muitos medos, muitos. Digo que quem me quiser terá que merecer, se esforçar. Porque não sou fácil. Escorregadia, arisca, esquiva, fujona, desconfiada, escaldada, analítica, não há um desses adjetivos que não diga respeito a mim. Viver minha pele não tem sido simples ou leve. Escolhas erradas, talvez a educação que tive ou o tipo de família que me originou, as experiências, uma só ou todas essas explicações me moldaram. Fui forjada em aço inox, blindada em minha caverna-cofre. Aqui me escondo e vivo meus medos sem culpa alguma. Como já escrevi antes, sinto até um alívio quando termino alguma relação (uma em especial foi O alívio da minha vida, é o que dá se meter com filhinho de mamãe e papai mimado, mas essa é outra história), não preciso mudar nada, sair daqui. Tudo permanece igual, em mim.

Meus medos podem me paralisar, já aconteceu antes. Quando tive O alívio (o que citei) também demorei uns anos para dar fim aquilo, isso que já não restava mais dúvidas de que era uma relação falida, provavelmente jamais deveria ter começado. Mas, penso, se não tivesse começado, não teria aprendido o que aprendi sobre mim, principalmente. Descobri que eu sou uma mulher bem parceira, a despeito da imagem que eu tinha sobre minha pessoa e da que muitos também tinham. Invisto na relação, mesmo que fosse uma história onde eu sabia que não amava. Não significa que meus medos tenham ido embora. Acumularam, foi isso. Juntou-se aos medos ancestrais o medo de cometer outro erro em me envolver com alguém e ter o incômodo que tive com um verdadeiro ex-namorado poltergeist perseguidor que cometeu todas as formas de assédio moral sobre mim, enquanto estávamos juntos e, principalmente, depois que rompi. 

Todos os medos possíveis sobre uma relação pertencem a mim, inclusive os impossíveis. E, escrevendo esse blog, adquiri mais um: se o cara usa meus textos como fonte de informação para ser um canalha e me conquistar por capricho? Sei lá, tanta gente maluca que anda por aí, não duvido de nada. Vejam só como é difícil romper todas essas barreiras que eu impus. Só Hércules, quem sabe, para derrubá-las. Um homem muito apaixonado? Ele existe, generoso o suficiente para ver além desse mundaréu de medos e pegar meu coração e acariciá-lo? Não conheci ninguém que gostasse tanto assim de mim para ver além, talvez um, no passado, mas não teve coragem de ir adiante. Aliás, coragem é moeda em falta no mercado afetivo, eu que o diga.

Sei que não é certo me esconder atrás desses medos todos, sei que afasto o eventual homem que me interesse, sei que ergo defesas invisíveis e, muitas vezes, nem eu percebo que as defesas estão ali. Sei que deixo minha vida passar sem me arriscar, sei que não há garantias de nada, sei que preciso dar passos em frente, sei que devo modificar algumas situações, sei que tenho que sair daqui, ao menos por uns tempos, voltar só quando é preciso refletir. Porque cavernas não são morada, apenas abrigos para reflexão. 

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