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Quero meu direito de ser mal-humorada


Eu tenho uma natureza muito peculiar que me deixa ácida em algumas circunstâncias. Diria que sou uma mal-humorada do bem, tenho meus momentos. Não gosto de dar bom-dia, levo um tempo para ser gente pela manhã, festas de final de ano não são uma maravilha, tenho TPM e sou muito crítica. Mas parece que as pessoas não entendem ou sentem-se atingidas por meus comentários incisivos. Quando posto alguma frase ou texto nas redes sociais destilando minha intempérie sempre tem um bichinho para lá de chato dando moral, como se esses momentos não fossem necessários na vida da gente. Olha, essa ditadura de felicidade extrema e ilimitada é um saco, porra. Provoca incongruências no comportamento das criaturas, acho um porre. E sem álcool. E a ressaca é mil vezes pior, blarghs. Essa gente que dá moral é chata por demais, nem eles sabem o que dizem, vivem uma vidinha muito meia boca. E justo eu que acredito ser uma pessoa muita mais divertida na minha acidez, consigo rir de mim depois. Mas a humanidade desaprendeu o sofrimento, a dor e o azedume.

Ser azeda é uma arte que levo a sério. Claro que não sou assim o tempo todo, mas quando sou, me supero. Na verdade, acho que tenho meus melhores momentos assim, destilando suco de limão puro pela pele. Não preciso de medicação alguma, só deixar o tempo passar e passa. E isso não significa que sou infeliz, pelo contrário, sou muito feliz. E por ser feliz, me permito a acidez e a causticidade do meu mau-humor, algumas vezes. Quando começo a não me aguentar, me reviro e renovo. Sempre sou outra depois dessas fases, sempre acrescento idéias e planos. Esse texto é uma prova disso. Apenas dou um conselho: pense antes de falar comigo nessas horas, provavelmente se me irritar usarei meu raciocínio para lhe demonstrar verdades incômodas na sua vida. Minha opinião será devidamente exposta e, se você não é preparado para isso, fique quieto, faça um favor à sua auto-estima. Minha artilharia pode ser pesada, dependendo das palavras usadas. 

Não preciso gritar SOU FELIZZZ aos quatro cantos do mundo, não preciso postar fotos sorrindo ou em momentos festivos para demonstrar as emoções. Aliás, quem faz isso nem de longe sabe realmente o que significa felicidade. Eu sei. Para mim, é paz de espírito, é a capacidade que tenho de viver mesmo que não tenha lá um grande motivo. Eu sou o melhor motivo. É assim, não há muito para acrescentar. Dinheiro, um par, bens materiais, amigos, nada faz feliz se você não está bem consigo mesmo, se não aguenta sua própria companhia. Preciso ficar sozinha, gosto de momentos em que posso apenas contemplar a existência sem ninguém por perto, sem que tenha que ser sociável. Na verdade, preciso ser antissocial de vez em quando, é minha maneira de ser, assim reorganizo os pensamentos, recupero energias. Nada não, mas gente me cansa, às vezes, mas cansa. Daí, destilo minha acidez para aguçar os sentidos e chacoalhar quem precisa. Mesmo quem não precisa é bom presenciar meu lado negro do bom-humor, hehehe.

Enfim, sou desse jeitinho querido de ser desde que me conheço. E não, não preciso estar em TPM para jogar suco de limão purinho, purinho por aí. Traz a vodka  que transformo em caipirinha. Mas gelo também, porque assim como fervo, também gelo, Iceberg-Mulher a congelar corações. Assim como sou afeto, sou distância, assim como sou alegre, sou feroz, assim como amo, ignoro. Assim sou eu, coerente, por mais que não entenda, tudo em mim faz sentido. Até esse pézinho de limão que cultivo na minha mente. Porque ser doce demais enjoa.

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