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A mulher do futuro


Faço terapia há alguns anos e faz algumas sessões que me pergunto porque minhas últimas e frustradas tentativas afetivas me fizeram cair fora. Entre uma sessão e outra, acabei percebendo que sempre estou alguns passos à frente deles, nessa questão afetiva. Atraio bofes legais, bonitos, inteligentes, sensíveis e que me olham de um jeito que não lembro quando alguém me olhou assim antes. E enrolados, confusos. Acho que é porque gosto de uma encrenca. Só pode. Gosto de ser instigada, de alguém com quem eu possa ser eu mesma sem medo de assustar, de passar recibo de arrogante ou metida, alguém que possa não concordar, mas que sempre terá um debate comigo. Mesmo assim, devo ter o reflexo de um dragão, porque eles se assustam do mesmo jeito. Francamente, acho que não sei lidar com os afetos, sou tão mandona e opinativa que espanto. O estagiário da minha irmã me chama de general. Devo ser.

Porque me sinto uma mulher do futuro? Na última tentativa, entendi o filme A Casa do Lago. Eu evoluí porque sei o que quero, não tenho mais um medo absurdo de que algum bofe bem do esperto e apaixonado faça de tudo para merecer ser amado por mim. E sou muito exigente. Não tenho mais medo de viver uma relação e nem de ficar sozinha, porque sei ser uma ótima companhia para mim. Esse tipo de confusão não existe mais na minha cabeça e percebi que uma relação não é uma prisão, apesar da única longa que eu tive me ter sufocado demais, mas era o cara errado e eu, uma louca que me meti naquela sabendo que não morria de amor. Já enfrentei um fim doloroso de um relação muito longa. E sobrevivi. Aprendi que o mundo não vai cair por que uma relação morreu e a gente ficou com medo de enterrar. E vai arrastando um defunto por anos, até ele feder tanto que nos afeta psicologicamente e fisicamente. Quando enterramos, dá um alívio, mas mesmo assim é difícil. Então, passei por alguns bocados nessa minha vida e cheguei até aqui sem muitos arranhões, com algumas marquinhas aqui e ali, mas é para a frente que se anda.

Por quê raios sempre estou passos à frente? Não é mais fácil tentar sintonizar, equalizar? Não posso ser tão difícil de lidar e poder de atração sei que tenho. Sei que como uma boa borboleta que sou, ruflei minhas asas e toquei algumas vidas, falta tocar o coração. Mas eu sei o que quero e não tenho mais paciência para esperar o tempo do outro. Para mim é tão lógico, tão nítido, mas para o bofe não. Daqui há alguns anos talvez ele chegue ao ponto em que me encontro. Daí, estarei adiante. Que inferno. E os três foram assim, um após o outro. Traumas de relações anteriores, medo do risco, medo da dragoa aqui. Acho que sou algo parecida com alguma patrola, ou retroescavadeira.

E nesses passos à frente em que me encontro, nos desperdiçamos todos. Eu, que nunca soube o que é namorar alguém por quem eu realmente estivesse apaixonada, que amasse, continuo sem saber. Eles perderam de ser mandados. Bom, não exatamente mandados. Perderam a ótima parceira que sei ser, com todos os meus azedumes e manias, sou boa ouvinte, boa amiga e dedicado nas tarefas entre lençóis. Tenho tanto amor em mim mas não há para quem dar. Há mais cantinhos empoeirados em meu coração do que aparento. Por favor, se alguém quiser descobrir, traga o espanador de pó. Não irá se arrepender. Claro que amo meus familiares e amigos, mas esse amor que falo está guardado. O que é uma pena. Perdemos todos.

O futuro não é um lugar ruim, creiam. Mas aqui precisamos assumir a responsabilidade por ser feliz, não há a quem culpar. Não há espaço para receio, medo de perder. Aqui é um lugar para quem assume suas fragilidades e se fez forte exatamente por isso. Sei como é estar na sua pele, homem do passado, já estive aí e senti o que sente. Já entrei em situações em que me vi sem saída, inventei mil desculpas para não romper, menti para mim e fingi acreditar na mentira que o outro contava, levei relação nas costas, dei muito mais do que recebi, tive sérios problemas familiares, deixei que minha sombra fosse minha guia por muitos anos, estive em todos esse lugares e situações. E cheguei aqui abrindo picada na confusão que era e ainda é um tanto a minha cabeça. 

Então, como na obra A Casa do Lago, deixo uma carta em alguma caixa de correspondência por aí, homem do passado. A mulher do futuro está lhe alertando. Não que eu seja a oitava maravilha do mundo, mas estou perto de ser, hehe. Se um dia você entrou em meus olhos e leu minha alma, ela é a mesma, mas talvez você precise mudar. Ou talvez nós dois precisaremos conversar e tentar ajustar nossos relógios. Estou mais do que disposta e não sou tão difícil de lidar quanto aparento, é tudo defesa, muralhas erguidas há anos que ainda não caíram de todo. Tente. Tentarei também, serei acessível. Dói saber que você pode ser atropelado e nunca saber como poderá despir suas máscaras e me deixar ver sua verdadeira face. E que você nunca saberá como é estar por inteiro com alguém que está inteira também. Beijo, homem do passado.

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