Sugiro ler com John Mayer como fundo musical
Postei a frase título desse texto em um dos meus perfis numa rede social, para minha sorte, algumas pessoas que me conhecem entenderam o tom da postagem. Foi uma ideia para essas linhas e não é de hoje que posto algo parecido. Porque a grande verdade e, talvez, umas das pequenas tragédias da vida moderna na Era das Relações Líquidas seja cada vez mais individualidade, cada vez mais solidões pequenas arrastadas em nossos dias, cada vez mais medicações tarja preta moderando nosso humor e cada vez mais fugas reais ou imaginárias de uma realidade egoísta e desalentadora. Se há muitas conquistas boas em nossa vida, há muitos desencontros e desamores na atualidade. As pessoas associam amar e se relacionar enquanto casal com dor, rejeição e incomodação. Acredito que pode ser de outra maneira, desde que se respeitam as diferenças e, principalmente, as percebamos como parte integrante da relação e necessárias ao crescimento da pessoa e do casal.
Por quê é mais fácil se esconder atrás do orgulho disfarçado de covardia? Por quê é mais fácil associar dor a algo que pode ser bom? As pessoas querem satisfação imediata, amor imediato e uma vida sem imperfeições. Mas é com os erros que construímos algo de bom e poderoso para nós e isso que faz a vida valer a pena. Essa pretensa busca por viver sem revezes é uma busca por viver sem cor. No fim, somos todos maiores abandonados por um mundo que não existe e uma vida que nunca será atingida. A vida a dois pode ser mais gratificante e enriquecedora do que a solidão de uma busca por prazer e diversão sem profundidade. As dificuldades são mais contornáveis quando se tem com quem dividir e somar as dúvidas, os risos e partilhar o silêncio. Mas onde estão os corações solitários e dispostos as descobertas sem fim de uma vida partilhada e construída no afeto?
Nos dias de hoje é defendida a ideia de que amar dói sempre e melhor é desapegar e viver solto. De que pego, mas não me apego. No entanto, os homens mal começam a sair conosco e alguma frase negando ou insinuando "namoro" ou "compromisso" logo surge. Saca só, conhecer, curtir e se permitir estar com alguém que nos atraia não significa amor ou compromisso, é uma chance que nos damos de, quem sabe, encontrar uma parceria divertida, leve e sintonizada conosco. Pode rolar, pode não rolar, se não tentarmos, não saberemos. Todos esses conceitos negando que envolvimento seja bom (em qualquer nível desse envolvimento) são fugas generalizadas de uma sociedade que desaprendeu a dividir o riso, o silêncio e, porque não, a lágrima, o sonho, um projeto. De uma sociedade que encara o sexo como uma obrigação competitiva por ser quem mais pega, quem é mais gostoso(a), quem aparenta mais, no entanto, a qualidade do sexo e das relações que vivemos é cada vez pior. Distante, programada e sem graça. Mensagens de texto sem uma ligação surpresa nada mais são do que pequenas notícias de rodapé numa rede social qualquer. A sedução (lembram da mão despretensiosa na perna e do sussurro inocente perto do ouvido?) foi substituída pela hiper-sexualização de tudo que nos rodeia. Sexo, fofos, não é a trepada. Sexo é o olhar, a gargalhada e assistir um filme de pijamão.
Acostumados que estamos a deixar fios soltos pela vida, um dia nos transformamos em nó górdio. Confusos, acreditamos que euforia e projeção dos nossos desejos e carências é amor. Sinto dizer, mas amar está bem longe disso. Amar é procurar saber como alguém é do avesso e conhecer suas dores. Amar é cura, principalmente das nossas cicatrizes. Amor é construção, observar as sutilezas contidas nos gestos, as pintinhas nas costas. Amar é compreender (ou se esforçar para) o outro. Se você acredita que o outro tem obrigação de sentir e retribuir o mesmo, lamento, mas o que sente não é amor. E sim, se alguém o abandona, pode ser culpa sua por pequenas desatenções corriqueiras, grosserias e abusos. Você é vítima de si, das suas atitudes e não do outro.
Dê uma chance ao seu coração solitário, mesmo que tenha muitas companhias, uma parceria é o que tira as teias de aranhas e a poeira do nosso peito. É o que nos bagunça no bom sentido, nos revira, nos refaz. Deixe que alguém lhe descubra, lhe compreenda. Permita o afeto e o cuidado de uma pessoa que quer estar com você e na sua vida. Se permita, sempre. Se aceite como alguém pulsante. E, lembre-se, quem escreve essas linhas é uma ex-durona que se descobriu alguém melhor quando se permitiu. Caí, chorei, vi que havia errado nas atitudes (ou falta delas) mais do que acertado e me refiz. Aprendi muito, principalmente sobre mim. E tenho um coração esperando por um locatário. Que pode ser você.
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