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A geração líquida



Tem chegado aos meus ouvidos histórias dessa geração que vai dos 16 aos 26 anos que me deixam pensando para onde irá a humanidade. Cada namorico de um mês ou pouco menos de um ano é desculpa para perder totalmente a cabeça, tentar ou cometar suicídio, se entupir de medicações tarja preta e armar cenas dignas de algum filme tragicômico. Me pergunto, o que está havendo? Uma menina de vinte anos que conheço rompeu com o namorado e fez a mãe dormir com ela, vários cortam os pulsos ou procuram psiquiatras para entorpecer a dor. Nessa mesma idade, eu chorava por umas duas semanas, bebia muito e em um mês ou menos, estava pronta para outra. Nunca me passou pela cabeça suicídio ou me entupir de remédios para fugir de uma dor, que, convenhamos, é totalmente narcisista. Afinal, onde foi parar a capacidade de lidar com as frustrações? Deve ter ido para algum lugar escondido pelos pais e por essa virtualidade toda das redes sociais.

Inegável que a Internet aproxima as pessoas, mas, pergunto, até que ponto? Vejo uma geração de gente insatisfeita, que deseja agora o prazer, que nem namora, fica num final de semana e no outro já se enfia na casa do par vivendo como casados, nem se dá tempo ou reflete sobre se é bom, se é isso que quer. Quando os defeitos e problemas aparecem, logo o stress e as brigas surgem. Essa juventude (está bem, confesso que muitas amigas e amigos cometem o mesmo erro) está atirando para todos os lados, vejo que a mesma menina que faz biquinho e manda mensagens para um, o faz da mesma maneira para outro, idem os meninos. Não há foco, interesse real, o que importa é TER. A paixão pelo amor e não o interesse real por uma pessoa que tem uma história, defeitos e dificuldades e está longe de ser perfeita. É uma busca ansiosa pelas declarações públicas on-line e mudança de status, de mostrar mais de que sentir. De aparentar mais do que ser. 

Essa geração líquida (alô, Baumann) não pensa nas consequências dos seus atos. O que eram comportamentos pontuais há uns vinte anos, hoje são generalizados. Com o tempo, desejam não sentir dor alguma e se atiram ao mundo de maneira atabalhoada, entupidos de medicações que entorpecem os sentidos. Com tanto tempo e tanta vida pela frente, agem como se o mundo fosse acabar se não estivessem atirados à vida feito folhas soltas. No fundo, são mais solitários do que a maioria, talvez tenham dificuldades de cultivar laços reais e duradouros. E me preocupa saber que os pais dessas criaturas são pessoas relativamente jovens e que deveriam ensinar a ter responsabilidade de maneira realista. Concluo que os pais também fogem. Do quê? Talvez de si, não sei e isso é repassado aos filhos e endossados pelas redes sociais. 

Casais que em vez de desconectarem ficam mais conectados para mostrar a relação aos outros não sabem o que é amar. Quando estiver com alguém que seja meu parceiro, amante, amigo e solidário com a minha vida (e eu com a dele), sinceramente, tenho em mente situações muito melhores e desconectadas para estar com ele. Quanto mais amar, menos estarei on-line e conectada e mais sintonizada com quem e no que vale muito mais a pena. Entre algo real, palpável e vivido aos poucos, recheado de sutilezas e pequenos gestos e esse histrionismo virtual, a realidade pode não ser tão perfeita, mas sempre será a minha escolha. Essa sim, acrescenta.

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