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Nem tão perto, honey - Closer



Sou cinéfila assumida e participo de grupos e blogs sobre o assunto - Cinema e, dia desses, vi uma postagem sobre o filme Closer. Em seu lançamento foi um soco no estômago de muita gente, li críticos comentando que seria uma incômoda reflexão para a maioria dos casais. Quando assisti, vi cenas que quase protagonizei ou que mais tarde fui uma protagonista, mas que são mais cenários em minha mente do que realidade. As perguntas que o Clive Owen faz para a Julia Roberts são uma agressão aos dois, um acinte para a relação. Mas muitos casais querem esse excesso de sinceridade, que, ao meu ver, é uma mentira ao avesso. Quase como perguntar se já pensou em transar com outra pessoa. É claro que em algum momento se pensa em ir para a cama com alguém diferente, mesmo que seja em poucas situações. Acho que essa fidelidade exclusivista, esse necessidade de controlar pensamentos e ações é praticamente doentio.

Controle, essa é a palavra. Parece que a mente é tão confusa e doente que precisa controlar, saber onde vai, com quem e como. Muitas vezes, esse controle estende-se mesmo depois que a relação finda. Saber onde está, com quem conversa e o quê é doentio, mas acontece todos os dias, veladamente ou não. Usa-se até outras pessoas para monitorar (geralmente alguém que se preste à esse papel medíocre e quase mórbido). Uma situação desgastante mas que se repete. Esquece-se uma máxima: amor se dá de graça, quando sai caro demais (emocionalmente falando) não é amor. Use qualquer outro nome, carência, dominação, repetição, o que for. E acredito que foi assim na história do filme. Porque é impossível ser dono de alguém ou de sentimentos e talvez seja essa a grande sacada do filme, do incontrolável afeto e do medo da entrega. E de como escondemos nossos sentimentos e afetos mesmo quando parece que estamos sendo sinceros.

Psicologicamente é um filme rico em interpretações e simbologia. Poderia escrever ad infinitum sobre minhas impressões. Mas a pergunta que não quer calar (para mim, lógico) é: a Jane (Natalie Portman) era uma alucinação deles ou era real? Porque hoje acredito que ela ligava as histórias e os personagens, era quem realmente conduzia o enredo. Quando ela some, no fim, tive a sensação de foi como um renascimento, uma nova vida ou a vida real dela que iniciou. Ou que ela finalmente pode ser quem é, sem máscaras. Como se amar só fosse possível se não mostrar a essência. Mas e qual a finalidade de tanta defesa, tantos esconderijos? Proteger-se de sentir ou de uma eventual perda? A vida é risco, essa é uma perfeita definição. Vivemos no fio da navalha quando entramos na fase adulta e arriscar-se, amar ou perder faz parte do ciclo. Frustrar-se também entra no pacote. Mas viver não é só isso. Por outro lado, ela mentiu pro Jude Law o tempo todo, e só foi verdadeira com o gato do Clive Owen porque esse era o jogo dela, se esconder para não se ferir. Ou foi por dinheiro? Entenderam? Hehehe, sei que viajei legal, mas é assim que encaro o filme.

O risco de se relacionar com alguém por quem eles se apaixonam é tão grande, que preferiram se acomodar em situações surreais de tão cheias de perguntas e respostas sinceras demais, tão sinceras que se converteram em mentiras. O risco de apenas viver e deixar correr, assumir quem são e o que querem é alto demais para que os personagens se permitam. E sempre ficam dúvidas, para todos. Me faz lembrar uma frase minha que me define e define muitas pessoas e situações, preferimos nossa caverna escura, porque as sombras e os morcegos são familiares. Se observarmos bem, nas relações isso é mais velado mas acontece. Queremos saber onde a pessoa foi, o que fez, mas não perguntamos sobre seus sonhos, suas emoções, não compreendemos de verdade com quem nos relacionamos. Por isso, Jane só foi Jane quando o filme acaba e quando era stripper.

Sempre tive a impressão de que o médico vivido por Clive Owen acreditava ser dono da personagem vivida por Julia Roberts. Essa história de quem ama luta é conversa. Ele estava apenas disputando o direito de ser marido dela, seu dono. Nunca passou pela cabeça dele se era o que ela queria. Para ele, o fato de desejá-la era o suficiente, não importava se era recíproco. Ela, por sua vez, não sabia o que queria e a estabilidade financeira provavelmente foi o que pesou. Por que só o sexo não justifica. Ele, provavelmente, não amava ninguém. E não tinha amor-próprio, a relação era um jogo.

Fica a pergunta: quantas vezes apenas queremos a relação e não a pessoa? Fiz isso, você provavelmente fez e várias outras pessoas também. Justificamos que o amor morreu e tal, mas a verdade é que apreciávamos a relação, o status comprometido, tal qual nas redes sociais, onde é mais importante não ser solteiro e postar fotos de uma relação virtual do que arriscar-se e viver relações reais. Tentar é válido, melhor do que se esconder em frases feitas e argumentos toscos. Eu aprendi isso. Grande filme, melhora a cada vez que assisto e suas reflexões são sempre incômodas, mas muito construtivas.

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