Pular para o conteúdo principal

Procuro seus pedaços em alguns inteiros



Parece loucura, parece volubilidade, parece carência, parece que meu sentimento é vão. Clichê total, sei disso, por favor, me permita a breguice de sentir sua falta cada vez em que dobro a esquina, que vejo alguém parecido com você, que lembro das nossas conversas, que penso em saber sua opinião. Deve ser isso ou o juízo me fugiu (se é que algum dia o tive) que faz de mim uma caçadora dos seus pedaços pela cidade. A tatuagem de alguém que lembra a sua, um homem com a sua altura e estilo, outro que trabalha na mesma área, outro que conversa um assunto que remete a você, os enfileirados, um após outro, que surgiram com seu signo, atormentando minha vida. Aquele cujo signo é o mesmo do seu lunar. Sim, lembro de tudo, até porque, nem faz tanto tempo assim. Mesmo que fizesse, sua ausência é uma desgraça, está em cada passo que dou, em cada retorno para a minha casa, em cada vez em que deito e sinto sua falta. Você está em mim e em algum lugar por aí.

O coração pula enlouquecido em meu peito quando penso ter encontrado outro pedaço seu por aí. Talvez, minto, certamente é o desejo de vê-lo inteiramente, que se poste em minha frente e deixe minhas pernas transformadas em gelatina quando abrir seu sorriso arrasador. Como pude tirar essa mulher tão frágil de dentro do meu abismo? Como pude ser essa criatura que procura por alguém que, provavelmente, a ignora? Quero jogar e meu melhor parceiro (até agora) não está aqui, o melhor desafio, melhor nem sei em quê. Quero falar e o melhor ouvinte e que melhor me compreendeu não me ouve. Sabe que converso sozinha com você? Xingamentos são parte dessa conversa, mas declarações e lembranças também o são. Perdi a sanidade, estranhamente, sinto como se agora é que estivesse realmente viva. 

Procuro você em outros, mas sei que não estará em nenhum deles, é único e insubstituível. Seus dramas pessoais, sua visão de mundo, suas contradições. Você é tão você e sequer percebe. Diz aos amigos que não é bem assim, logo em seguida, entrega algum sorriso pendurado nos lábios quando meu nome surge. Sei disso, ninguém precisa falar ou comentar, eu sei. Conheço uma parte de você e gostaria muito que conhecesse uma parte minha. Que as partes faltosas se apresentassem e, assim, fosse feito um acordo. Você é meu melhor segredo e minha busca diária. 

Embora tenha bloqueado seu telefone, as caixas de diálogo no bate-papo, não o bloqueei no coração. Atitude contraditória, como eu. Aliás, fosse de outra maneira, não seria eu. O fato de raramente enviar sinais de fumaça nada significa, eu sei. Acostumado com mulheres que agem de modo padrão e óbvio, comigo deve ter dúvidas. Ao ler esse texto nem reconhecerá você nele, também o sei. Ou pensará "ela jamais escreveria algo assim para mim". Escrevi, aliás escrevo. Vê? Há algo entre nós que foge da minha percepção, gostaria que arrancar do meu peito e da minha cabeça, abrir esse espaço que é seu para que outro o ocupe. Sei que outro virá, talvez, com menos medo de uma mulher intrometida e hiper-sensível como eu. 

Enquanto não sei onde está, o procuro por aí. Um dia, canso, deixo a raiva tomar conta e o arranco de mim, sou perita nisso. Embora disfarce bem, sou blindada de maneiras imperceptíveis aos olhos comuns. O que todos percebem de mim é apenas a ponta do Iceberg-Mulher que sou, apenas o que permito. Mesmo você mal sabe quem sou e nem se deu ao trabalho de descobrir. Acredito que gostaria de todas as mulheres que estão por aqui, morando em meu abismo. Saberia com qual adormeceu, se aventuraria a descobrir qual acordou em seu peito. Sim, seu peito. Seus braços, seu abraço, suas pernas pesando sobre as minhas, suas mãos em minha cintura fina. Você tatuou sua lembrança em cada pedaço de pele, em cada suspiro que dou. Você é o DNA do meu afeto, lindo. Espero na próxima esquina que surja inteiro e não seu pedaço em outro alguém. Por enquanto.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu em mim

Eu estive aqui ontem. Hoje, sou outra a surgir. Eu estive aqui há um mês. Hoje, não quis voltar a dormir. Eu estive lá há um ano. Voltei agora e eu não sou o mesmo lugar. Eu me apaixonei há quatorze meses. Hoje, sou outra e não amo. Eu amei profundamente há três anos. Hoje, lembro com um afeto intenso, mas é outro o coração que pulsa. Eu me namoro hoje. Há oito meses queria morrer. Não sou a mesma em mim, mas somos as mesmas em processo de mudança. A Claudia melancólica, a Claudia fechada, a Claudia vibrante, a Claudia sombria, a Claudia falante. A Claudia quieta. A Claudia poeta. A Claudia que é a água de um rio, o sopro do vento, a chama da vela e a floreira da orquídea. A Claudia que me habita e a quem amo muito. A desesperança e o desânimo são intangíveis e impermanentes.  Meu amor por mim é árvore, que cresce um pouco todos os dias. Sou eu em mim, na mudança do hoje e do amanhã.

Manual da TPM para homens

Caro Homem Moderno, você precisa de umas dicas para sobreviver à nossa TPM. Sabemos que, para você, é uma verdadeira odisseia passar seus dias e noites com uma mulher que oscila de humor e atitude ao menos uma vez por mês. A primeira delas é: tenha juízo e caia fora. Mantenha distância absoluta, ainda mais se você não for o tipo de cara que sabe lidar com diferenças. Já entendi que você ignorou meu primeiro conselho, então, não reclame. Deixou de lado o bom senso e permaneceu por perto de uma mulher em TPM. Apesar do meu aviso, resolveu ficar ali, cuidando e acariciando sua linda amostra do Apocalipse. Para que você consiga passar indefinidamente por esse período com o mínimo de danos, recomendarei algumas atitudes muito salutares (ao menos para você). Entenda o princípio  de tudo. Sofremos todos os meses um bombardeio hormonal a fim de ovularmos e, posteriormente, menstruar. Não é fácil a tempestade emocional de uma mulher, afora os eventuais desconfortos físicos, como cól

Meio ogra, inteira sua

Poderia me descrever de várias maneiras, exaltar minhas qualidades e fazer você acreditar que sou a Branca de Neve esperando pelo seu príncipe, o que não é verdade. Para começar, digo a você que sou meio ogra, grossa e desastrada, que ando avoadamente nas ruas e, algumas vezes, quase fui atropelada. Posso comentar, inclusive, sobre minhas TPMs ferozes e que não saberá se chorarei ou terei raiva de alguma situação. Mulher-Iceberg, tenho um coração que se derrete mas que também congela. Impulsiva quando o sangue ferve, quando resfria vem a calma e o arrependimento. Não pergunte o que sinto, perceba quem sou. Observe minhas janelas verdes e saberá cada nuance das minhas emoções e onde escondo os sentimentos, siga meus passos e descobrirá a caverna escura onde me escondo. Posso afirmar que gosto de gente, mas adoro ficar sozinha. Gosto de cuidar dos outros, mas preciso e muito que cuide de mim. Não uso biquíni, não viu à praia, não gosto de areia e não me bronzeio, embora, mo