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O conquistador de Padaria (ou Norman Bates)



É um sujeito todo certinho, mesmo que não aparente. Provavelmente, caminhe como se estivesse na eminência de defecar, embora não o seja. Abre a porta da padaria para você passar, cede o lugar na fila do caixa e sempre faz um elogiozinho besta. Você, de início, até responde, agradece, conversa com ele até a quarta ou quinta vez em que se encontram. É aquele tipo que sugere o pão mais fresco, o melhor amaciante e até abraça sua avó com carinho. Todo santo dia dá bom dia (ou boa tarde ou boa noite) no mesmo tom de voz, faz as mesmas perguntas e usa a camisa abotoada até o pescoço ou, então, de maneira que pareça estar enforcando. Parece tão certinho, tão engomadinho, tão, tão... Assustador (tipo o Norman Bates, lembram de Psicose?). A quinta ou sexta vez em que conversa com ele, começa a desconfiar de tanta solicitude, daquele tom monocórdio de voz, daquela Síndrome de Pollyana (a história de uma menina tão, mas tão boazinha que apanhava da vida e sorria), daquela educação toda. As perguntas repetitivas, o exagero de boa vontade dão na vista e você tem certeza de ou ter encontrado um container imenso ou, então, de que o cara tem um lado sinistro bem escondido, ao estilo daqueles filmes de terror com música de criancinha.

O passo seguinte que você dá é não corresponder ao sorriso do mala, responder suas repetitivas perguntas com monossílabos, ser irritante o tempo todo e nunca mais dar tchau pra ele. Mesmo assim, ignorando suas ligações ou mensagens, passando reto quando o vê, o cara não percebe que sobrou. Igual ao Galã de Rodoviária, outro tipinho padrão e chato, ele acredita ser impossível que você resista a tanta melosidade, tanto bom-mocismo. Diferente do Galão de Rodoviária, é que esse parece perigosamente louco, por nunca se tocar de que está incomodando, invadindo. Se você o trata mal, ele continua conversando com você, mesmo que seja um monólogo. O cúmulo do azar é se o cara descobre onde mora, daí, ferrou. Ele irá até sua casa para uma visita surpresa. Nunca nem pense em ir ao banheiro ou tomar banho enquanto o tipinho estiver por perto. Já pensou se o Norman Bates incorpora e o cara invade o banheiro de faca em punho? Eu, hein. 

Desconfio de que respeite mulheres acompanhadas, mas sei lá, o cara é muito sem noção. E não é excesso de auto-confiança, é falta de tudo. Deve ter convivido demais com a avó, provavelmente, até hoje passa talquinho e Hipoglos no bumbunzinho. Ou é o melhor amigo da mamãe, sabe que ela é uma das mulheres mais confiáveis do mundo. O rapaz é muito respeitador, desde que respeitem sua vontade. No fundo, é um mimado e acredita que o amor vence até sua repulsa por ele e um certo medinho  (o Norman Bates invadindo o banheiro). Alguns deles até são palatáveis por algum momento quando são instruídos e tem uma boa cultura geral. E só. Passou do assunto política e a fome no mundo, corta a cena e foge. Certamente, que em uma crise aguda de carência, você pode deixá-lo entrar em casa e conhecer seu quarto, dormir com você (tem que fazer sexo?) e até pensar em alguma relação. Afinal, tem todos os dentes, usa desodorante e é limpinho. CILADA!

Nem todos os Conquistadores de Padaria são prováveis Norman Bates, a maioria só é chato mesmo. Insuportavelmente chato e não se toca, mas se você evitar por uns vinte anos a padaria que ele frequenta, pode ser que o cara perceba que sobrou. Bloquear ele nas redes virtuais, deixar no vácuo e qualquer outra atitude fará com que o tipinho pense que deu bug em seu computador, sei lá, algum vírus invadiu. Jamais passará pela cabeça oca desse cara que você o classifica como intragável, mala, container, chato-mor. Ele será insistente, descobrirá o telefone da sua vizinha e ligará para saber se está bem, não foi atropelada ou outra tragédia qualquer. O cara não entende que você não quer nada com ele, apenas foi educada. E somente educada. O aconselhável, nesses casos, é falar que é um eunuco e resolveu usar roupas femininas. Pensando bem , péssima desculpa. Melhor mesmo nem mostrar os dentes, afirmar NÃO O TOLERO, SEU MALA e se mandar do lugar. Ou usar o pó de Pirlimpimpim nele e o despachar para a Terra do Nunca. Pobre Fada Sininho.


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