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A difícil arte de se relacionar a dois





Esqueça as borboletas no estômago, as ufanias, a insensatez e a loucura. Esqueça conto de fadas, afinal, nem você é uma princesa e nem ele será um príncipe. Esse não é um reino e a magia nada mais é do que viver a realidade plenamente, sem esquecer da poesia de estar vivo. Mas amar é bagunçar, sim, de uma maneira diferente de atormentar e desconstruir, é uma revisão de como você sempre viveu. Amar é crescer. Amar é olhar para si, mas perceber o outro. Talvez, por isso, em princípios de relações, uma pessoa se sinta tão perdida, tão em dúvidas. Absolutamente insegura e sem saber como agir. Amar, talvez, seja como renascer. Essa pode ser a explicação por nos sentirmos tão atordoados e até um tanto infantis quando os primeiros acordes de uma canção inaudível aos outros mortais ecoe em nosso coração.

Cada início é meio torturante, atire a primeira pedra quem nunca agiu como um maluco nessa fase (mesmo que jamais admita ou o tenha feito escondido). Somos quase que completos imbecis e sequer percebemos que o outro é uma incógnita e é esse o barato de construir uma relação: cada descoberta acrescenta, fortalece. Mesmo os defeitos fazem de alguém um ser especial, diferenciado. Acredito que as imperfeições são essenciais para o afeto surgir e se fortalecer e para que conheçamos realmente com quem trocamos nossos fluídos e nossas ideias. Obviamente, quando o outro não quer amadurecer e viver a relação de maneira plena e leve, quando as imperfeições são gritantes demais para que as qualidades surjam, é melhor cair fora, mas esse é assunto de outros textos que escrevi e escreverei. 

Ficamos infantis e perdidos quando principiamos os caminhos do afeto. Nos transformamos em alguém até um tanto irracional, sim, eu também o faço. Essa conversa de quem quer, procura, quem sente, o demonstra é blábláblá religioso e determinista. Já me relacionei com homens que me bajulavam, mas não estavam realmente envolvidos e me relacionei com outros que estavam envolvidos, mas se assustaram (assumo, TALVEZ eu seja um pouquinho difícil). Gostar realmente de alguém é se sentir vulnerável, de alguma maneira, estamos perdidos em um terreno inexplorado. Se a outra pessoa não está na mesma sintonia, os riscos são grandes. Mas sedutores e imperdíveis, confesse.

Essa equação do afeto requer o uso ponderado da razão, tarefa bem complicada nesse caso. Precisamos refletir sobre quem é o outro, que a maneira dele reagir é diferente da sua. Entender que também pode estar inseguro e sem saber o que fazer, um ser humano é diferente do outro, tem suas experiências, medos e bagagem de vida; é alguém que conhecemos e desconhecemos ao mesmo tempo. É de deixar qualquer um perdido. Mesmo a pessoa mais segura de si e certa do que quer e de quem quer pode ficar meio fora do ar. Gostar de alguém é, realmente, uma confusão no princípio.

Tenho a teoria de que é mais fácil esperar o pior porque ser infeliz é mais fácil, temos a quem culpar. Iniciar uma nova relação, principalmente se o objetivo é formar uma parceria duradoura, nos deixa burros por um tempo, tenho a sensação de que o cérebro desliga. Nada que justifique insanidades, lógico, mas que saímos do ar por algum tempo, que a mente fica entorpecida, é bem real. Aquele nosso mundinho confiável e seguro, onde vivemos hermeticamente fechados, é ameaçado por alguém que faz algo indefinível acontecer com você, aquela intuição (se você a usa, lógico) de que ali está uma pessoa única e especial. Aprendi com a vida e tenho a crença firme de que se seu coração vira uma bola de fogo quando você pensa ou está perto da pessoa, se vocês se olham profundamente e enxergam a alma um do outro em algum momento, ali está a chance de acontecer algo que vale a pena. Portanto, faça valer e deixe de bobagens. A vida é única, se permita, a recompensa pela entrega sincera é muito maior do que uma eventual perda. 

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