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Meio ogra, inteira sua



Poderia me descrever de várias maneiras, exaltar minhas qualidades e fazer você acreditar que sou a Branca de Neve esperando pelo seu príncipe, o que não é verdade. Para começar, digo a você que sou meio ogra, grossa e desastrada, que ando avoadamente nas ruas e, algumas vezes, quase fui atropelada. Posso comentar, inclusive, sobre minhas TPMs ferozes e que não saberá se chorarei ou terei raiva de alguma situação. Mulher-Iceberg, tenho um coração que se derrete mas que também congela. Impulsiva quando o sangue ferve, quando resfria vem a calma e o arrependimento. Não pergunte o que sinto, perceba quem sou. Observe minhas janelas verdes e saberá cada nuance das minhas emoções e onde escondo os sentimentos, siga meus passos e descobrirá a caverna escura onde me escondo.

Posso afirmar que gosto de gente, mas adoro ficar sozinha. Gosto de cuidar dos outros, mas preciso e muito que cuide de mim. Não uso biquíni, não viu à praia, não gosto de areia e não me bronzeio, embora, modestamente, fique muito bem quando o faço (se pedir ou me levar a praia, ficarei nua, caso queira ou com o menor biquíni que escolher). Brigo pelas minhas ideias, mas sou capaz de admitir erros e pedir desculpa (da minha maneira). Adoro maquiagem, mas confesso não me depilar de vez em quando por pura rebeldia. Uso roupas escuras, minha alma já foi descrita como dark, embora use acessórios em tons de rosa. Sapatos são minha perdição, batom meu fetiche. Me sinto nua se esqueço o perfume. Tem dias em que rebolo caminhando, noutros, parece que me movo entre as trincheiras de alguma batalha esquecida. Ciumenta, mas nem dou bola para quem conversa na noite, o que faz, nada disso. Saio sozinha e detesto ser regulada.

Tenho identidade e vida própria, não preciso de você para viver. Fará gestos pequenos e fofos na tentativa de entender meu mundo e ficar mais próximo de mim. No entanto, meu coeficiente elevado de ogrice ficará impávido, por desatenção, deixarei passar a beleza desse seu jeito titubeante de se apropriar do meu coração. Quero você, lindo, quero muito, mas minha vida não depende disso, entende? Você será uma escolha, não uma necessidade ou opção. Sem exageros, sem desvarios, paixão é doença e quero a saúde de um amor profundo. Posso atender ao telefone de maneira estúpida, esse meu jeito apressado e intempestivo pode ser compreendido como grosseria, peço desculpas desde já. Mas meu coração será uma bola incandescente de afeto por sua causa.

Leia mais meus olhos do que meu gestos, perceba minha energia mais do que a minha ogrice. Meu tamanho faz com que aparente delicadeza, não se iluda, apenas meus afetos são delicados. Meu comportamento, definitivamente, não o é. Palavrões estão em meu vocabulário, bom dia não. Posso disfarçar o que sinto, acredito até que meus olhos se blindam. Meu coração, ao contrário, está aberto, livre e disposto a enfrentar batalhas ao seu lado ou fazer nada, desde que seja ao seu lado. Posso ter minha solitude e minha diversão com as amigas, mas você é quem ouvirá meus pensamentos mais idiotas e gargalhará com minha falta de jeito e estabanamento. Você e apenas você entenderá quem sou melhor do que qualquer pessoa. Você, com alma de poeta e sorriso de menino. 

Então, aceite sua ogra como ela é. Faremos alguns ajustes, compreenderemos um ao outro, provavelmente, tentaremos rotas de fuga, nos assustaremos com essa emoção, demoraremos a percebe-la. Posso ser meio ogra, mas serei, tenha certeza, inteiramente sua. Não será a distância ou a diferença de opiniões que nos afastará. Porque é por esse sentimento que construiremos nosso próprio conto de fadas. Peculiar, diga-se, como nós.

Comentários

  1. Caraca... você se descrevendo, parece que está me descrevendo também! Amei tudo! Penso e hajo igual. Inclusive, tenho uma amiga, que me chama de Ogra, assim como eu a chamo!

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    Respostas
    1. Há muitas de nós por aí hehehe!! Simbora botar abaixo esse preconceito de que mulher é meiga e jeitosa! Eu sou um desastre, coleciono queimaduras, arranhões, cicatrizes, roxos nas pernas (me bato todos os dias e sempre nos mesmos lugares da casa). Viva a nós!

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