Nasci sob os
desígnios do signo de Touro, ascendente em Capricórnio; apenas (ou talvez) por
isso sou adjetivada de "teimosa". Nesse pensamento, minha sentença
como pessoa "teimosa" é proferida quase com satisfação e todos os
meus pensamentos, as opiniões e atitudes entram nessa sentença. Sabe, você que
está lendo, teimosamente, esse texto: tenho mandado essas criaturas enfiar algo
em seu orifício recôndito e obstruído pela escuridão, mesmo que mentalmente. É
ridículo como gente que não revê atitudes, comete o mesmo erro ano após ano,
relação após relação e escolha após escolha, alcunha a mim como "teimosa".
Óbvio que tenho algumas teimosias, mas daí a classificar toda uma pessoa por um
ou dois posicionamentos é exagero. O pior, gente que bate o pé apenas porquê a
atitude ou idéia é sua, que aponta o erro do outro e não faz mea culpa
assumindo o seu. É preciso ter paciência com essa gente. Aviso desde já que
paciência é artigo raro em mim. Mas aceito pensar a respeito.
Reflito sobre
isso desde uns acontecimentos recentes, onde uma amiga entrou em crise com o
namorado, por ter, sabiamente, torrado a paciência dele com seus recorrentes
ataques. O incrível é que seu comportamento é reincidente, relação após
relação, afirmando que ela é assim e o outro é quem deve saber lidar com ela. Ou
é do meu jeito ou de jeito nenhum nada tem a ver com teimosia, sou assim e
pronto é uma atitude muito adulta e sábia. Aprenda você a me compreender e me
desobrigue do contrário. Ceda você, entenda a mim. E isso não é teimosia,
imagina. Os que revêem seu comportamento, que exercitam a autocrítica, como eu,
é que são teimosos. Os que acreditam em ceder aqui e ali para conviver com
alguém ou conhecer melhor o outro é que teimam. Os que não criam caso, que
procuram evoluir, são teimosos. Os que se desprendem de convicções, que tentam
ver o mundo com outros olhos é que são teimosos, os que fogem do determinismo
religioso cristão / espírita / judaico / astrológico são teimosos. Quem busca
aprimoramento emocional é teimoso, quem quer encontrar um jeito mútuo de
conviver é teimoso. Que tempos, amigo, que tempos os que vivemos.
Definir
alguém por um signo, cor de pele, religião, sexo, orientação sexual e etecetera
é tosco, desculpe a objetividade. Sou muito mais do que meu signo e tudo o
mais, uma pessoa que tem bagagem e história que dizem muito sobre mim. Alguém
que é consciente dos seus erros e está sempre em busca de mudar, compreende o
princípio da impermanência e se sabe mutante e aprendiz de viver. Criticar e
criticar quem tem coragem de se assumir e dar a cara a tapas é fácil, mas
repensar a vida e atitudes está fora de cogitação. Apontar o dedo para quem tem
opiniões e procura ser fiel aos seus sentimentos, sem jogos ou máscaras, é
fácil. Mas vestir a própria pele e encarar suas sombras, seus monstros e
amadurecer dolorosamente, procurando caminhos alternativos, sequer é imaginado.
O curioso é que o teimoso sofre duplamente, por si e pelo outro, aquele
ingrato, que não o compreende, afinal, quem teima sempre se cobre de razões
(muitas delas falecem ao primeiro questionamento).
Minha amiga
teima, como várias e várias outras pessoas que conheço, em perceber que a mudança
de atitudes e pensamentos caiu de madura. Pede para o parceiro entender que ela
é assim. Que tal, hein? No entanto, se afirmo que sou assim, com neuroses e
tudo, me aconselha “desse jeito acabará sozinha”. Quando um tem o “seu jeito”
de ser, penso que tenho o meu. Se duas pessoas fincam o pé no “ah, sou assim e
pronto” um encontro afetivo é descartado por duas pessoas que não arredam pé de
suas teimosas ideias. Sequer percebem que a outra pessoa não tem a obrigação de
aceitar e pode reagir de maneiras impensadas, inclusive abandonando o barco. Se
cada um de nós tem um momento, cabe aos dois encontrar um ponto de equilíbrio,
uma convivência sadia, tentando que o outro compreenda. Quando um está em um
processo difícil, é o momento de, momentaneamente, deixar de lado suas demandas
e apoiar o(a) parceiro (a).
Desde meus
vinte e poucos anos percebi que “ou me aceita assim ou nada” é burrice. Acreditar que há
apenas uma maneira de se conduzir, agir e pensar é envelhecer
prematuramente. E quem escreve esse texto já esteve presa à convicções, mas,
corajosamente, tem as abandonado e tentado ser alguém melhor. Contemplar a vida
e absorver as lições que ela nos dá é maturidade, é plenitude de pensamentos. É
um processo doloroso, exige olhar bem no fundo de sua alma, mas compensa e
muito. Portanto, que os teimosos, como eu, que sabem ser necessário procurar
outros lados para avaliar nossas atitudes, que entendem haver outros personagens
em nossa vida que desejam aprender sobre nós, sejam a maioria, num futuro
breve. Que nossa teimosia em mudar e rever conceitos e convicções seja a tônica
da vida. E que eu me mantenha, teimosamente, mutante e aprendiz de viver.
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