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Foto de um quadro de Jackson Pollock |
Tem sido complicado falar pessoalmente, então, imortalizo essa conversa com palavras, vírgulas, reticências, espero que sem ponto final. Parece que há uma conspiração universal para fazer essa saudade queimar e minha vontade de você não ser saciada. Parece que entes invisíveis pregam peças em nós, deixando espaços onde deveria haver abraços, beijos, saliva, pele e seus olhos; espaços onde há o que dizer e fazer, sentir. Rirá de mim ou não entenderá, mas espero que um dia saiba o que falarei antes mesmo das palavras serem vocalizadas, dos suspiros rechear os intervalos entre beijos. Sei que é cedo e isso me agonia, uma mulher que gosta de controlar tudo em si, de repente, se vê meio que à deriva desse eixo rígido que construí para mim, uma mulher que mantém suas emoções sob controle. Uma mulher que é fugitiva de afetos, encontra rotas de fuga onde quer que o afeto se instale.
Sou isso, apenas uma mulher. Frágil, imperfeita, múltipla, imprevisível. Não sou e nem quero ser forte o tempo todo, assusta a visão que sei ter de mim. Você me assusta, um homem tão abissal quanto eu, tão lindo, aliás, incrivelmente lindo (suspiros). Incrivelmente fugitivo também, embora não o admita. Foge de suas sombras, foge de seu coração. Diz que amou, mas não o era e sabe disso. Olha só, a intrometida e que fala demais deu as caras, não se magoe ou assuste comigo. Se me permite, aconselharei a fazer o que fiz: encare suas sombras, seu lado mais sombrio. É enriquecedor, acredite. Apenas assim poderá estar mais inteiro. Ah, agarre meu corpo, beije minha boca, também é muito interessante que o faça. Não quero você sob condições, apenas quero. Apenas sinto, apenas desejo. Apenas você (e somente você).
Você me enfeitiçou, me estragou. Agora, eu que havia recuperado totalmente a razão pela qual me guio, destrilhei (uma amiga diria que, finalmente, entrei no rumo). Nenhuma emoção que outro poderia me despertar sequer estaria próxima da que sinto por esse homem lindo, sensível e que tem os olhos mais expressivos (ou que me detive a observar) que já vi. Você fala comigo o tempo todo com seu olhar, diz o que pensa esconder. Tudo bem, me rendo, apenas é assim porque mexe comigo. Admito, pronto. Satisfeito? Espero que esteja bem insatisfeito, afinal, está longe de mim e isso não é bom.
Gostaria de escrever o que nunca foi escrito em meus textos, de afirmar tudo que não afirmei antes. Talvez, não deva ser escrito, devo permitir, como antes não permiti a outro. Sair da minha caverna. De qualquer maneira, você mexe comigo, o que decorrerá, nenhum pode afirmar. Sem promessas, afinal, criam expectativas e induzem ao erro. Obviamente que errar é humano, mas perdurar no erro como faço desde que lembro, é burrice da grossa. Quero viver um dia de cada vez, contemplando a vida como deve ser. Contemplando você, se for possível.
Concluo essa missiva com uma vontade e um pedido. Pode me beijar imediatamente? Gosto da sua boca e, principalmente, dos efeitos que causa. (Gosto de você) Gosto de ouvir quando fala, mas confesso que abstraio e minha atenção é desviada pelos atributos que tem. Sempre, por fim, me detenho em seus olhos e permaneço neles por muito tempo. Xingo mentalmente quando faz esses testes esperando que eu reaja como qualquer outra reagiria. Sabe, assim, subestima minha inteligência e isso não é bom. Se me quer, venha buscar. O que deseja saber, pergunte. Por favor, pare de tentar causar reações em mim, pode ser? Aliás, cause reações físicas, por favor. Me deixe em transe, me afogue em sensações. Me faça sentir, meu lindo e querido moço bonito. Beijo, em sua boca.
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