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A incrível geração de gente que não sabe o que dizer



Relendo dois textos sobre mulheres e suas motivações para ter alguém ou não, ambos diametralmente opostos e ambos absolutamente parciais, tenho algo, a dizer: ai, meus sais, meu saco e meu Jack Daniel's sem gelo, por favor. Ambos são parciais em todas as atribuições que me, lhe, se colocam e sim, achei tosco que, em um mundo diverso, amplo e repleto de nuances, ainda há gente (principalmente mulheres - amigas, vocês nunca foram tão machistas e tão estereotipadas) que veja o mundo sob essa ótica homem versus mulheres. Quero deixar bem claro que sou a favor sem restrições da batalha entre os sexos, desde que seja em uma cama com lençóis limpos, com direito a uns tapinhas, se assim convier, beijos demorados e cheios de saliva, verdadeiros gladiadores (as) do sexo, com lingerie bonita (pode ser sem nada mesmo) e direito a abraço demorado depois do gozo. Outra batalha qualquer é mais um round nesse mundo repleto de disputas inúteis em que tudo se resolveria se houvesse mais mente aberta e capacidade de compreensão.

Em princípio, sumidades na vida de mulheres: eu gosto de cozinhar sim, apenas não me agrada fazê-lo todos os dias, isso não me faz menos independente do que você ou qualquer outra. Também, não me faz menos batalhadora e nem a mulher que não acorda às seis da manhã para fazer a chapinha e pegar uma ou duas horas de trânsito para trabalhar, mas acorda às cinco e meia porque seu bebê chorou ou quer bagunça. E, que depois de alimentar seu filho, ainda encara um dia inteiro de casa, roupas, pessoas, outros filhos, marido e a si mesma. Uma mulher que não tem o sucesso financeiro de várias que enchem sua boca para falar de independência, mas usam antidepressivos quando rompem uma relação. Que não seguram sua onda e nem bancam suas escolhas, se prendem a padrões e conceitos. Que, se não possuem tudo que acreditam dever ter ou não se hospedam em lugares hypster ou apresentam fotos de diversão contínua, serão menos interessantes ou aceitas. 

E, outras autoras de textos: não culpo homem nenhum por minha solitude, culpo a mim e minhas percepções defensivas e errôneas sobre o mundo. Homens não mentem o tempo todo, mas muitas das minhas amigas que repetem isso como a um mantra, mentem para si mesmas, também (e muito) projetam no homem sua culpa por não saber o que quer. Na verdade, também culpo esse mundo volátil e superficial, de consumo fácil em que vivemos. Ambos, homens e mulheres estão perdidos e traindo a si mesmos quando repetem ad infinitum conceitos que nem analisam para ver se são verdadeiros. Há amor sim, mas acontece para quem quer e está disposto, é isso. Uma mulher não é menos ou mais por ser solteira e fazer sexo a rodo ou estar casada e com uma vida prosaica, mas é menos quando não aceita rever seus conceitos e romper com várias convicções APENAS porque ela está sempre certa e o homem errado. Leiam mais Camille Paglia, por favor. O princípio da impermanência, lembram? Apliquem.

Sem me alongar muito (mas alongando), sou muito mulher sim para compreender o momento do outro estar frágil e alcançar seus chinelos, fazer uma massagem e tentar melhorar seu dia; sou muito mulher sim ao assumir que, se meus sentimentos forem recíprocos, eu sou mulherzinha de cama, mesa e banho, viveria corajosamente a odisseia de uma relação onde quer que ele me levasse. E sim, nunca pensei verdadeiramente em engravidar, não me sinto menos mulher por não ter e nem desejar filhos, por nunca ter me casado e (sequer) jamais ter ocupado uma prateleira na casa de namorado, demarcando meu território. Amo demais minhas calcinhas e sapatos e cremes e perfumes e o que quer que represente um pouco de quem sou para o abandonar na casa de alguém, apenas para disputar espaço com alguma outra "pretendente".

Exponho meu ponto de vista sem querer formar tendências, mas refletir sobre as diferentes percepções de vida e do mundo. Não sou chata, sou resultado das minhas escolhas e nem acredito que homens sejam responsáveis pela minha felicidade, nem o dinheiro, nem a posição social. Ser feliz e ter paz de espírito é responsabilidade minha e de mais ninguém e coisa alguma. Conheço mulheres que se sustentam e não se bancam e mulheres que lutam com a carteira vazia e tem mais atitude no dedão do pé do que a financeiramente independente no corpo todo. Conheço homens ressentidos desses chavões "feministas", bons cozinheiros, bons parceiros e dedicados pais. Conheço homens que, apesar das suas fragilidades, tem um colo para oferecer. E conheço mulheres egoístas, fúteis e que atirariam um filho no colo da avó o tempo todo, se isso pudesse deixá-la dormir mais ou fugir dessa responsabilidade. 

O que me induz a concluir que vivemos a incrível geração de gente que não sabe o que dizer, não sabe o que faz e perdeu a capacidade de contemplar o mundo em sua volta e perceber a complexa personalidade de um ser humano, que é fruto de vivências, análises, observações e bagagem de vida. Mais uma vez, infelizmente, vi mulheres repercutindo o machismo (sem o assumir) e exigindo dos homens uma sensibilidade que elas estão longe de ter. Obviamente, não representam a maioria de nós, ainda bem. E, ainda bem, que existem homens por aí para desmentir todo esse blábláblá machista de mulher que sempre se coloca no papel de vítima e não no de agente da própria vida. E sim, sou feminista, mas há tempos percebi que egoísmo, falta de empatia e percepção não são características de um sexo, mas das pessoas.

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