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Meu nome não é vagina


Sabe, me incomoda quando não me percebem por inteiro. Quando um pedaço pequeno e que representa apenas uma parte minha é considerado e a complexidade de uma pessoa que sente, que sonha, que se motiva, que chora, que tem estilo musical, que é cinéfila, impulsiva, incontrolável, afetiva, geniosa e etecetera é desconsiderada. Não sou minha vagina, amigo. Nem ela me representa na totalidade. Gosto de sexo, mas passo meses sem fazê-lo, masturbação, chuveirinho e vibrador resolvem o problema de qualquer mulher, acredite. Não preciso de você para gozar, meu orgasmo independe de ter um parceiro. Sinto falta de pele com pele, saliva, gemidos e tal, no entanto, não preciso transar a rodo ou com algum cara apenas para alimentar minha autoestima, eu SEI a mulher que sou, sei o efeito que causo. Ou você acredita ser o único a observar a minha silhueta definida por uma fina cintura e coxas torneadas? Amigo, olhe ao seu redor, observe, é mais inteligente do que isso.

Posso até me soltar na cama, livre e entregue. Mas não foi sempre assim e não é sempre assim. Se no sexo tenho atitude, nada mais é do que o reflexo da minha personalidade, da minha entrega, do que você me desperta. Mais do que sexual, sou uma pessoa afetiva, por isso não sei apenas trepar com alguém. Preciso de algum envolvimento, de alguma entrega da outra parte. Ninguém aqui está falando de apaixonar-se, amor ou registrando o nome das crianças no cartório, longe disso, seu otário. Deixe de ser tão mulherzinha, a única que pode ser covarde, assustada e fugir aqui sou eu. Falo em curtir, gostar da companhia, deixar rolar. Falo em quem sabe acontecer, se não rolar uma emoção a mais, cada um para um lado. Não me enrole com essa falta de definição do que deseja, espera ou quer. Se procura apenas uma vagina para enterrar seu pênis, seja claro. Daí posso cair fora sem traumas, não é o que quero e é o meu direito que seja assim, como é o seu fugir de envolvimento. Essa enrolação apenas para manter a foda fixa é atitude de adolescente, menino. Você é um homem, precisa honrar as bolas que carrega entre as pernas.

Conheço mulheres que são uma vagina, podem afirmar querer mais de uma relação, mas o sexo é o que conta. Para mim não, se deixo você entrar em minha vida, é porque gosto de conversar com você, é divertido e me atrai um cérebro que analisa; mais do que sapiência, sabedoria me fascina. Ironia, capacidade de analisar o mundo em  sua volta, percepção da vida e das pessoas, complexidade e, confesso, um pouco confuso e sensível são imã em um homem, ao menos para mim.  Tudo bem, você quer alguém que seja adequada a sua ideia de vida certinha, encaixada. Quer comodismo e conformismo, mais do que essência e profundidade, fazer o quê, até as formigas nadam em um pires. Prefere uma mulher com problemas imaginários, como o sol que não brilha apenas para ela ou que faça cobranças que nem ela sabe quais são, vá em frente. Sou uma pessoa real, com problemas e responsabilidades reais. Abismos são assustadores e sou um abismo. Em meus paredões há uma riqueza de detalhes, a luz do sol incidindo em algum lado, uma caverna (a que me escondo), flores, paisagens, arbustos, árvores, sombras, luz e teias; um rio no fundo pulsando com vida nas mais variadas formas. Essa  sou eu, uma miríade. Uma característica minha é ser autêntica, amigo. Sou única.

Aceite a ideia de estar com alguém porque você gosta, sente prazer com e por estar com essa pessoa. Não escolho um homem pela sua aparência ou sua conta bancária ou sua performance sexual, escolho alguém por que me desperta algo, mexe comigo de alguma maneira. O que será pertence ao futuro. Agora, é bom você mandar mensagens de vez em quando para saber de mim, ligar para conversar um pouco. Não comprarei o vestido de noiva por causa disso, tenha absoluta certeza disso. Saiba que minha paciência é curta para comportamentos adolescentes ou blasé, um pé na bunda e minha indiferença serão seu retorno. Tenho preguiça também de começos, portanto, indique um caminho para lidar com você, suas atitudes mulherzinha inibem qualquer aproximação minha, vácuos em bate-papo, falta de retorno ou demonstração de interesse, francamente, é atitude de homem que não se banca. Perguntar se passei bem a noite após nos encontrarmos ou dizer que está programando nosso próximo encontro é bem legal. Não seja esquivo se eu demonstrar interesse, se acredita tão sem graça que eu não possa estar genuinamente querendo saber o que lhe motiva, o que entristece, seus sonhos, o que lhe enraivece, enfim saber sobre esse cara que é mais do que um pau, ops, pênis? Pensa realmente ser tão pouco para mim ou para qualquer mulher? Pensa não ter nada a oferecer além da cama (ou sofá ou banheiro ou sei lá)?
Sei que é uma pessoa de personalidade mais rica do que isso. Não se contente com pouco, eu não me contento. Alguém que queira saber mais sobre mim do que as posições ou práticas sexuais das quais sou adepta e que não queira me impressionar é muito sedutor, desde que seja real e autêntico. Fale mais que sou bonita, linda, charmosa ou sedutora, gosto de escutar. Gostosa e boa de cama já ouvi muito, mas não são os elogios que me cativam. Se aprecia meus pontos de vista, minha perspicácia, diga. Para mim, é um elogio e tanto. Seja ALGUÉM comigo, não apenas mais um, pode se arrepender de ter sido tão indiferente, pode descobrir algum interesse a mais. Tente fazer dos nossos encontros mais do que encontros, que sejam experiências, equalizações, sintonias. Não tenha medo de mim, com 1,56m de altura e 50 kg é impossível ser assustadora. Me trate como alguém que tem nome, sobrenome, data de nascimento, endereço, gostos, medos, traumas. Porquê, não esqueça, meu nome não  é vagina.

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