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Ela tem um bichinho

 
 
Você conhece aquela pessoa legal, divertida, inteligente, com quem adora conversar, discutir e filosofar, que lhe deixa sorrindo feito idiota e que, inclusive, faz seus olhos revirarem na hora do sexo. Ela tem seus defeitos, claro, mas são parte desse mistério incrível que sorri para você sempre que lhe vê e que forjaram essa pessoa tão imperfeita e tão legal para conviver. UAU! Pois é, mas você não lida bem ou não gosta de conviver com animais de estimação. E ela tem um, quando o azar é grande, ela tem mais de um. Se o azar for exagerado, ela tem mais de um de espécies diferente, gato, cachorro e aquela avezinha insuportável que fica acordando você. É certo que os papéis podem se inverter e ser o homem quem tem os animaizinhos e a mulher a criatura que não gosta de bichos por perto (o que é irônico, pois afirmo, para horror dos chatos, que somos bichos primatas bípedes humanos). Independente disso, onde um adora seus peludinhos e outro simplesmente não pode ver aquela boca peluda e bafenta pedindo um carinho ou querendo lamber seu braço ou rosto, o caos pode se instalar. Ou não, depende da capacidade de negociação de um deles e a flexibilização das atitudes.

Aqui, leitor ou leitora, é que entra o malfazejo problema de comunicação da nossa espécie teimosa, casquenta, turrona e com a mania triste de impôr seus gostos aos outros sem nem ao menos tentar ser sutil. Um egoísmo sem nexo e que só faz mal a mim, a você e a relação. Não só eu, uma babona tutora de cachorrinhos melosos, mas amigas e amigos já passaram por essa situação e nem todos conhecem a expressão jogo de cintura. Uma amiga foi admirável e lidou com a situação de maneira quase poética de tão objetiva: nunca discutiu sobre seus três (ou quatro cachorrinhos, não lembro), simplesmente os chamava para dormir nas noites frias. O namorido ensaiou um resmungo e foi ignorado, estava vivendo com ela há algum tempo e sabia desse amor pelos cães, então, se alguma vez pensou em proibir, calou-se. Não brigaram, não houve quedas inúteis de braço, simples, ou ele aceitava os peludinhos ou dormiria no sofá, frase que ela nunca falou com a boca, mas com os olhos, imaginem a eloquência. Cada casal tem uma dinâmica diferente, mas, ao que observo, infelizmente, as quedas de braço são mais frequentes do que os abraços.

Acredito que se não houver brigas pelos bichinhos, haverá pela educação dos(as) enteados(as), pelo almoço com as respectivas mães, filmes que assistirão, tudo pode ser o ponto de partida de gente que adora uma queda de braço. Provar que está certo ou impôr seu gosto pode ser uma tentativa de controle, mas calma, isso não significa que você seja um psicopata! Eu permito que meus cachorrinhos subam no sofá e durmam em minha cama, mas sei que, se fosse casada, seria complicado que o vivente não se importasse (em minha experiência, homens são mais reticentes às permissividades peludinhas). A suprema e infinita arte de conviver em grupos e em sociedade requer diplomacia e tato e, francamente, nos dias de hoje, somos egoístas demais para admitir ceder um tanto e o outro fazer o mesmo. Se algo é bom para mim e você não gosta, então não merece minha convivência, meu afeto e meu tempo. Calma! Enfiar goela abaixo um ponto de vista é o caminho mais curto para que se arme uma guerra de nervos dispensável. Negociar aos poucos, principalmente um tema que envolve vidinhas que não sabem viver sem a tutela dos humanos, é essencial, afinal, eu não abandonarei meus cãezinhos e também não abandonaria uma relação apenas por uma divergência que pode ser contornada.

Se a outra parte ameaçar abandonar você, dê risada dessa chantagem infantil. Afinal, um cara apaixonado e que não resiste ao sorriso arrasador da mulher por quem se apaixonou refletirá sobre essa intransigência; uma mulher não resiste à firmeza de um homem que ama um serzinho frágil e não prescinde do seu peludinho por nada (isso vale para casais gays, bem entendido). Se realmente cair fora, será por pouco tempo, se não voltar, bom, você terá se livrado de uma pessoa controladora, o que poupará incômodos futuros. Obviamente, sem generalizações. Ou isso ou eu é uma frase desnecessária, abusiva e de péssimo gosto. Teimosia não é a característica que mais admiro tanto em mim quanto no outro, portanto, bom senso, amor e muita comunicação abrem caminhos, constroem pontes e fortalecem qualquer relação. Afinal, sempre é bom lembrar, amor é construção e o amor pelos bichinhos será um castelo sólido quando o amor pelo primata bípede humano começar. Ah, mais abraços e menos quedas de braço, certo? 

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