Chico Buarque, na música Cotidiano, dá a ideia de que a rotina é doce, desejada, a verdadeira face da felicidade, com os versos: “todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar, e essas coisas que diz toda mulher, diz que está me esperando pr'o jantar e me beija com a boca de café...” E, mesmo quando parece estar enfadado dessa rotina, afirmando que “todo dia eu só penso em poder parar...”, não consegue se desvencilhar dessa vida repetitiva que lhe parece tão leve, a tradução da perfeição.
Mas a rotina a qual sou submetida, diariamente, seja por imposição social, por obrigação da vida adulta, porque é o correto a ser feito, ou seja lá porque, não é doce e nem poética como na música de Chico Buarque. É enfadonha, tediosa, cansativa, desmotivante, sem brilho.E, se eu pudesse optar entre fugir e ficar, eu fugiria, correndo, voando, doida para me livrar das amarras dessa vidinha de ratinho de laboratório, que se resume a acordar, trabalhar, comer e dormir.
Como diria Chico Buarque, todo o dia ela faz tudo sempre igual, mas o meu igual não é poético, não é leve, não dá vontade de permanecer. Talvez os responsáveis por essa minha ânsia do novo, de liberdade, de ser feliz, da vibração, da paixão sejam meu sol em sagitário, meu ascendente em áries e minha lua em peixes, afora os demais detalhes do meu mapa astral que, por hora, é irrelevante detalhar.
E, afirmo, conheço várias pessoas que possuem ao menos parte da minha ânsia, da minha vontade de gritar, de fugir, de mudar, de se desvencilhar dessas amarras impostas....mas quem as impôs? Quem nos obriga a não viver como gostaríamos, a emburrecer no trabalho realizando atividades mecânicas, a viver nessa roda, correndo sempre atrás de algo que desconhecemos? Já escutei a frase “se você não gosta de onde está, saia, você não é uma árvore”, mas como sair do lugar, atirar tudo para o alto, começar uma vida novinha em folha, com várias páginas em branco para escrever a estória que realmente gostaríamos de viver? Como diz Marina Colasanti no texto “Eu sei mas não devia”, a gente se acostuma, mas não devia.
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