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Desistências e covardias



Assumo, sou perita em desistir, cair fora. Mesmo indiretamente, estou sempre procurando motivos para desistir, abandonar, largar de mão. Provoco situações até inconscientemente, pensando bem, não passo segurança alguma para o desavisado que se aproximar de mim. Sou um abismo. Corrigindo, sou O abismo. Não mergulhe em mim, não se aproxime. Nos arrependeremos os dois. Mesmo quando tento ser legal, sou um desastre. O xadrez amoroso é um emaranhado de atitudes e decisões que não combinam comigo. Essa história de tentar, curtir, ir levando é uma tortura psicológica para mim. Não convivo bem com defuntas, vivas ou ilusórias, não convivo bem com homens indecisos, inseguros. Não convivo bem com os princípios, não está ao meu alcance essa habilidade de fingir não ver. Sou muito perceptiva, dificilmente escapa alguma situação, para piorar, me torturo com stalks frequentes em páginas alheias de ex qualquer coisa, meus ou dele (o desavisado). Vejo algum ex (meu) sozinho, penso, bom, o mundo tem salvação; se tem alguém, já imagino que um cara tão enrolado conseguiu e eu não! É, caso perdido.

Largue seu discurso pronto de mão. Comigo não funciona. Esse papinho frouxo de se dê uma chance, ele vai esquecer da ex, vai fazer isso, blábláblá já me estourou os tímpanos. Amor se dá de graça, quando sai caro não é amor. É posse, apego, medo, neurose, doença, qualquer outra emoção para a qual eu não tenho o mínimo saco de lutar. Já fui mãe de ex, outro marmanjo que não olha para dentro de si é demais. Compreende? Se o cara vive assim há anos, como eu mudaria essa situação se é ele quem deve desejar mudar? Gigantes feitos de moinhos de vento são apenas para Dom Quixote. Eu quero o horizonte, quero voar sem tirar os pés do chão, quero o risco. Mentirosa. A verdade é que desejo um homem que arrombe a porta da minha caverna e me arranque de lá. Que me faça acreditar, que ele acredite em nós. Que seja homem o suficiente para driblar suas inseguranças e medos, que reveja sua vida. Uma vez, há algum tempo, escutei de algum jovem galante que o fiz rever conceitos, o deixei meio sem chão, perdido e confuso. Foi o primeiro cara que, em minha história recente, me olhou fascinado. Não lembrava antes de algum outro ter fitado meus olhos tão fixamente, descortinando minha alma. Talvez eu deseje viver isso outra vez.

Esperança é uma palavra linda e adoro as boas palavras. Mas é preciso escolher ter ou não essa palavra em sua vida. Admiro quem tem, mas há tempos entendi que a esperança vem antes da perda, que esperar é a ante-sala do desgaste, do fim. Para não perder, nada espero e abandono a quase tudo. Minha caverna escura é mais segura, é ali que me sinto em segurança, que nada tem de semelhança com a paz. Sim, sou covarde. O fim, gosto dos fins, já escrevi sobre isso. Desisto antes de tentar de fato, de realmente acontecer. Sou uma reclusa de mim, dos meus pensamentos. Nenhum homem se apaixonaria tanto ao ponto de enxergar isso, de me roubar dessa caverna em que me escondo, agirá diferente. Cada um me dá ímpetos de fuga, de isolamento. Mais um que não deseja ser especial. Ou que não deixo ser especial em minha vida, ser meu parceiro. Então, desista, desavisado. Viva sua fantasia, que ficarei com minha realidade.

Comentários

  1. Please, dona Clau Dias Perséfone, ponha um bofe nesse corpitcho (já bem meia-boca) aí! Tá difícil a situation, hein? Por que será? Será caso perdido ou o mundo tem solução? Nós, seus ávidos e intrépidos leitores, queremos mais leveza e poesia nesses seus magíficos textos (ou seriam ¨textículos")? Saudações.

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    Respostas
    1. Caso não saiba, informo que os IPs usados por ti e pela tua companhia de desocupados estão devidamente identificados, mesmo que sejam de lan house, a gente descobre, cutch-cutch. Descobri um aplicativo para instalar no blog e rastrear os comentários, portanto, eu APENAS confirmei quem é, mas já sabia de vocês. Acho que sente falta de intimações, ligações da delegacia e assemelhados. Um grande abraço e agradeço sua sincera preocupação. Ah, manda um abraço pro teu pessoal!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Que absurdo!!!

    "Não há mal nenhum que nos faça
    Nenhuma ameaça
    Quando a mente e alma
    Caminham juntas
    Perfeitamente descalças."

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