Comigo foi um dos motivos, com você também e com as minhas amigas idem. A conjugação dos verbos é essencial para um casal, o devido tempo verbal e a necessária concretização do coletivo duplo. Quando para você é nós e o outro está apenas no ele, algo está muito errado. Precisamos ter nosso espaço, mas quando o outro é só ele e você quer o nós, quando o MEU carro, a MINHA cama e o faço o que EU quero tomam conta, a conversa descambou. A relação é eu dou, mas não recebo. Eu planejo por nós e ele (a) por si. Eu faço planos e lhe incluo, o outro (a) não. E o desgaste e a subsequente falta de vontade, respeito e amor vai tomando conta de você, como uma sombra que lhe consome. O desânimo acaba minando a sua auto-estima, parece que você não tem direito a ser correspondido (a), de ter reciprocidade, de ser amado (a). Quem ama mais o seu umbigo não tem como erguer os olhos e perceber o outro e o mundo que se descortina com o amor correspondido. De tantos "Eu", o "Nós" vai embora e você junto com ele.
Saber conjugar adequadamente os verbos, em qual pessoa do singular ou do plural e em qual momento é uma arte delicada e precisa. É necessário ter sensibilidade, carinho e vontade de amar. Construir pontes que levem até a outra pessoa, olhar profundamente os olhos de quem afirmamos amar e deixar que aquele abismo lhe trague, conte segredos, desnude as motivações e a história de alguém. Sim, todos somos um abismo, alguns apenas não olham para ele e preferem viver na superficialidade, sem grandes entregas. Amar é entrega sim, é receber afeto e saber ser amado. Não dói nada perguntar a opinião sobre um sofá, uma roupa ou o presente para a sua mãe. Eu gostaria e você também de ser ouvido e, vez ou outra, minha opinião ser levada em consideração. Muito me senti uma idiota por ter batido pernas na tentativa de ajudar e sequer ouvir um muito obrigado ou ver que fui levada em consideração. Essa falta de conjugar adequadamente os verbos é que mina devagar qualquer boa intenção ou vontade em relação à pessoa ou à relação. Esse EU sufocando, engolindo e roubando o NÓS é que transforma o mundo em um lugar egoísta e solitário.
Obviamente que precisamos manter nosso espaço, nossas idéias e ter sonhos independente do outro. O problema começa quando apenas a nossa individualidade deve ser partilhada e a do outro permanece um território intocado e proibido. Que mal há em saber dividir, se doar? Qual o grande problema em considerar as opiniões e necessidades de quem está ali, com você? Uma amiga disse, há tempos, que o mal da gente é que acostumamos com pouco e acreditamos merecer esse pouco. O que não devemos esquecer é que os pombos vivem de migalhas e, ainda assim, várias pessoas as distribuem. Não sou um psitacídeo para voar em praças e pedir migalhas. Nem você o é. Talvez, mas talvez mesmo, seja o outro incapaz de amar e ser amado, o que é triste, muito triste. Ouvir suas necessidades e querer conhecer seus sonhos, planos e saber quais são seus medos e fragilidades não tira pedaço de ninguém. Ao contrário, acrescenta e muito à minha, à sua vida, faz mais leve e mais feliz cada dia que passamos na Terra, cada movimento que fazemos. E mais profundo cada beijo e olhar que trocamos.
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