São
muitas Eu se debatendo na minha existência, como a Eu sarcástica, a Eu
decidida, a Eu sombria, a Eu questionadora, a Eu rebelde, a Eu durona, a Eu
intuitiva, a Eu bruxa, a Eu baladeira, Eu caseira, Eu cinéfila, Eu roqueira, Eu
dona-de-casa, a Eu impulsiva, passional, incontrolável, intransponível, todas
facetas de uma personalidade complexa. Mas, nos últimos tempos, uma Eu que
sempre escondi (e ainda escondo) tem sobressaído entre tantas, a Eu que carrega
uma sensibilidade pulsante. Essa parte de mim tem exigido passagem com toda a
força e faz com que sinta uma melancolia inexplicável aos domingos à tarde. Uma
vontade de nem sei o quê, uma necessidade de ser compreendida sem palavras, apenas
por um abraço e o silêncio reconfortante. Nesse mundo moderno, que é um imenso
açougue de carne fresca e sexualmente disponível, ter um coração que pulsa
parece ser passado e atitude de gente fraca. Nesse mundo que fala muito e diz
pouco, o silêncio angustia. Como se sexo puro e simples e um palavrório raso pudesse
preencher os vazios que carrego no peito, aliás, eu e você carregamos.
Há
alguns anos, acreditava que ser durona resolvia tudo. Odiava chorar, odiava
sentir, espantava qualquer homem que se interessasse por mim com arrogância e
imaturidade. Defensiva também é uma das minhas facetas, havia esquecido. Um
tanto selvagem e incontrolável, cada vez mais me convenço de que ser assim faz
parte das minhas defesas. Ser durona exteriormente, algumas vezes com sarcasmo,
ajuda muito a manter ilesa a personalidade, os sentimentos. Sempre acreditei
ser uma fraqueza esse sentir a flor da pele, essas emoções, essa maneira de existir, que, por fim, admiti ser a minha. Fragmentada, paradoxal, múltipla, difusa, intensa, densa, eu. Um mosaico com cores, texturas e aromas diferentes. Não vivo sempre da mesma maneira, deixo algumas eu do passado por lá mesmo e recebo alegre minha Eu de agora, a eu que se tece e amolda ao Tempo e não entende o Destino. Essa Eu que muda tanto e constantemente. Reencontrei uma Eu perdida em algum lugar no tempo, a Eu que escreve.
Não é fácil ser eu, admito. Estar em minha pele todos os dias tem sido um exercício de auto-perdão e paciência. Apesar disso, não quero voltar no tempo e nem ser outra pessoa. Tudo pelo que passei, cada dor, lágrima e sorriso me forjaram. Sou o resultado do que vivi. Exatamente por isso, mutante, impermanente. Aprendi que estar presa à convicções impede a liberdade de escolha, a compreensão do outro e de mim. Apesar disso, sinto que não sou compreendida exatamente por assumir minha multiplicidade. Tantas e tantas circunstâncias em que sinto estar distante do mundo.
Vivo, existo, respiro. Sinto. Choro cada dor que rasga, cada saudade do que desconheço. Cada dia é uma oportunidade de ser uma parte minha e meu todo, minha existência em um segundo. Pareço ser a mesma, mas sou uma mutante, procuro reinventar cada uma de mim, cada parte das minhas Eu. E que ser linear esteja distante do meu universo tão particular e tão rico.
Não é fácil ser eu, admito. Estar em minha pele todos os dias tem sido um exercício de auto-perdão e paciência. Apesar disso, não quero voltar no tempo e nem ser outra pessoa. Tudo pelo que passei, cada dor, lágrima e sorriso me forjaram. Sou o resultado do que vivi. Exatamente por isso, mutante, impermanente. Aprendi que estar presa à convicções impede a liberdade de escolha, a compreensão do outro e de mim. Apesar disso, sinto que não sou compreendida exatamente por assumir minha multiplicidade. Tantas e tantas circunstâncias em que sinto estar distante do mundo.
Vivo, existo, respiro. Sinto. Choro cada dor que rasga, cada saudade do que desconheço. Cada dia é uma oportunidade de ser uma parte minha e meu todo, minha existência em um segundo. Pareço ser a mesma, mas sou uma mutante, procuro reinventar cada uma de mim, cada parte das minhas Eu. E que ser linear esteja distante do meu universo tão particular e tão rico.
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