Pular para o conteúdo principal

Um pouco a cada dia - reflexão sobre a ansiedade



Caminhamos, corremos, dirigimos, entramos no ônibus, no táxi. Atravessamos a rua, paramos no sinal. Entramos em casa, na aula, no trabalho. Comemos, trabalhamos, estudamos. Conversamos, rimos, brincamos. Frequentamos academias, barzinhos, cinemas, shoppings. Fingimos. Todos os dias fingimos estar bem. Todos os dias fingimos não sentir o peito apertado, o coração descompassado, a respiração difícil. É quando voltamos para casa ou entramos em nosso quarto que tudo desaba. A solidão, os problemas reais ou imaginários, a depressão, ansiedade, o medo, a falta de vontade de viver batem de soco nos pensamentos. Não, pessoas, não é falta de ter o que fazer, falta de deus no coração ou falta de sexo. É falta de paz, falta de amor, falta de compaixão, falta de propósito, falta de ânimo, falta de motivação.

Pode ser excesso, também. Uma alta sensibilidade, emoções intensas e profundas em um mundo raso e fútil causa uma comoção severa nas almas mais pensativas e observadoras, com alta percepção sobre o mundo ao redor. O excesso de sentir nesse meio hostil aos sensíveis pode causar depressão, ansiedade, síndrome do pânico. Tratar como bobagem ou preguiça o que é um transtorno que pode paralisar a vida de alguém é uma irresponsabilidade. Podemos lavar as paredes de um prédio, erguer uma casa, ainda assim a ansiedade continua a devorar nossa vida. O transtorno de ansiedade é patológico, não é aquela ansiedade comum, é uma ansiedade doentia, um monstro a consumir nossa paz, a sabotar nossa vida, aliás, a roubar nossa vida. 

A ansiedade tortura. No meu caso, construo catástrofes, vejo apenas fracasso e dor, sinto apenas fracasso e dor. Agora, por exemplo, um ciclo de paz e tranquilidade foi rompido por um gatilho inesperado. Vivo em constante angústia e dor. Uma mão invisível aperta forte meu coração e mina meus esforços em respirar. Não é frescura, não é chilique, é doentio. Me esforço em não sucumbir, em manter meus pensamentos sob vigilância, mas eles desordenam-se e tem vida própria. São mãos invisíveis a tapar minha boca, a trancar minha respiração, a sabotar minha vida.

Tive crises depressivas em decorrência da ansiedade, algumas me atiraram na cama e me deixaram sem vontade alguma. Luto para que não aconteça novamente, faço terapia psicanalítica e vou à psiquiatra regularmente. Quero sair dessa, quero voltar àquela paz que senti, aquela alegria tranquila. Entendo que em algum momento passará, mas enquanto acontece é um duro golpe na minha saúde física e mental. Meu instinto é de fugir, fugir das pessoas, fugir de mim, me trancar no quarto e não sair de lá. Costumo dizer que a ansiedade é aquele coleguinha que põe o pé no corredor entre as classes para nos fazer tropeçar. Pois bem, eu vinha caminhando sem isso há algum tempo, mas o coleguinha me fez dar um tropeção e estatelei no chão. Quero levantar, quero tirar essa angústia do peito. Quero poder ver a beleza que a vida tem.

Precisamos apenas de abraço e compreensão. Se me vir chorando, deixe minhas lágrimas rolarem, me abrace, me apoie. Fique ao lado e não confronte. Você não tem como dimensionar a dor. Não minimize ou relativize. Tudo o que um ansioso precisa é de apoio e colo. Sei que preciso me ajudar e continuo lutando. Mas cansa saber que essa luta é constante e não me dá trégua. Cansa não poder relaxar e simplesmente viver. Mas estou aqui e estou tentando. Se me ajudar, certamente não sucumbirei. Um abraço pode ser mais terapêutico do que um medicamento. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Para você

Há muitas mulheres em mim, todas intensas, profundas e fora dos padrões. Minha multiplicidade me fez e faz ser uma rebelde, uma inconformada, uma questionadora. E, no momento em que escrevo essas sinceras linhas, me dei conta de que todas essas mulheres amam você, my burning love. Você que é por quem eu sempre procurei e não sabia, que é tudo que quero e não sabia. Você, só você teve as mais apaixonadas e verdadeiras declarações de amor, você que é o imperfeito mais certo para mim. Você, que teve meu tempo, meu medo, meu corpo, minha mente, minha alma. Você faz todas as músicas e poesias se encaixarem e, enfim, eu perceber a dimensão desse sentimento que tomou conta de mim. Aquela música da banda Queen, You are my best friend, por exemplo. Tinha a sensação de que quando associasse alguém a essa canção teria encontrado uma pessoa por quem valeria a pena derrubar meus muros. E, olha só, do nada, um dia, pensei em você e nessa música ao mesmo tempo. Sabe o por quê? Amore mio...

Fingers

           Senhor Dedos Mágicos, minha calcinha não esqueceu de seus dedos dentro dela. Nem outra parte recôndita de minha anatomia. São lembranças úmidas de uma noite fria por fora, mas fervendo por dentro. Minha boca também manda lembranças à sua, que perdição nossas línguas se encontrando. Desde aquela noite, sonhos eróticos e malucos tumultuam meu sono. Uma imensidade de ideias e suspiros estão ecoando em cada lugar que vou. Quem diria, aquele cara quieto, sem jeito, hein? Uma ótima surpresa. E eu que pensei que você não fosse de nada, resolvi dar uma chance nem sei bem o motivo, carência, tesão recolhido, sei lá. Você esconde bem o jogo. Apenas um toque e eu quase tive uma síncope.  Senhor Dedos Mágicos, depois daquela noite tenho quase certeza de que quando não apenas seus dedos encontrarem minha intimidade, mas todo o resto, o Vesúvio em erupção será uma pálida lembrança. Acredito que será bom para ambos. Um cara que tem seu toque, es...

Eu em mim

Eu estive aqui ontem. Hoje, sou outra a surgir. Eu estive aqui há um mês. Hoje, não quis voltar a dormir. Eu estive lá há um ano. Voltei agora e eu não sou o mesmo lugar. Eu me apaixonei há quatorze meses. Hoje, sou outra e não amo. Eu amei profundamente há três anos. Hoje, lembro com um afeto intenso, mas é outro o coração que pulsa. Eu me namoro hoje. Há oito meses queria morrer. Não sou a mesma em mim, mas somos as mesmas em processo de mudança. A Claudia melancólica, a Claudia fechada, a Claudia vibrante, a Claudia sombria, a Claudia falante. A Claudia quieta. A Claudia poeta. A Claudia que é a água de um rio, o sopro do vento, a chama da vela e a floreira da orquídea. A Claudia que me habita e a quem amo muito. A desesperança e o desânimo são intangíveis e impermanentes.  Meu amor por mim é árvore, que cresce um pouco todos os dias. Sou eu em mim, na mudança do hoje e do amanhã.