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De todas as maneiras, entre todos os outros




Moço, tentei, tentei, usei as estratégias que haviam funcionado em outras situações, mas você é osso. Desalojá-lo do meu coração é a pior das tarefas amorosas que já tive a missão de cumprir. Usei todas as artimanhas conhecidas e que sempre deram certo, nenhuma funcionou. Beber todas as cervejas e mais um pouco apenas piora, a cada gole, penso mais e mais em você. Era tão fácil com os outros, mas eles foram apenas os outros. Aquele meu conhecido exercício de arrancar do coração doía, sabe, mas funcionava maravilhosamente. Dois meses e pronto, coração livre e alma leve. Em relação a você, mais fácil arrastar as pirâmides do Egito do que lidar com suas âncoras encravadas. Para uma mulher pragmática como eu, que se permite o caos, aceitar que essa tarefa é complexa demais para a minha força de vontade é inimaginável. Isso estava fora dos planos. Você estava fora dos planos. Mas aconteceu.

A saudade que sinto é maluca. Você é como um programa rodando em segundo plano, finjo que não está ali, entretanto, está. Aprendi a entender a saudade e esse sentimento como colegas de quarto. Ignoro, vivo, respiro e tudo o mais. Apenas deixo de canto tudo o que me causa. A decisão foi minha, embora espere que a questione a qualquer momento. Houvesse uma poção do esquecimento, beberia, não sei como lidar com isso.

O tempo passa e eu permito. Vivo, planejo, sou mulher de ir em frente, afinal, do chão, ninguém passa. Você continua aqui e em algum outro lugar, sabe que questiono minha sanidade? Tem momentos em ouço sua voz, sinto sua presença. Maluquice, nem pensa em mim. Ou eu uso essa desculpa para manter minha decisão e não olhar para trás. Foi alucinação o que vi em você ou como vi me olhar. Loucura. Teria tanto a lhe dizer, mas nem sei onde estão as palavras para expressar. Nem sei onde expressar. Nem sei.

Ignore minha decisão racional (expressada passionalmente). Ignore o meu "não quero saber de você". Ignore seus medos e defesas. Pensaremos e falaremos de menos. Viva, deixe fluir. Esse elástico que é confunde, disse chega a isso, não a você. Sinto sua falta. Entre todos os outros, encontrei em você quem sempre quis. Você me fez amá-lo porque percebe um lado meu que nem sabia, o meu melhor lado. Essa visão que tem de mim também aflorou o meu amor-próprio. Amo você porque faz me amar mais. Confuso? Pois é, intuía que o amor fosse esquisito e é, que fosse maluco e é, que fosse estranho e é. Amo você porque, mesmo no caos em que mergulhou, você é lindo, fofo, adorável, transborda afeto. Amo você porque me compreende como ninguém mais, Amo você porque comprovou minhas teorias sobre esse sentimento e me surpreendeu. Amo você porque você existe, porque respira, porque amo suas dores, seu caos. Amo sua luz e sua escuridão.

Por isso, escrevo para a sua ausência. Errado demais estarmos afastados. Nosso certo é você e eu unidos, na vida e na dor, nas vitórias e nos projetos, nas perdas e nos sorrisos. Esse meu coração maluco chama você, se pressente isso, o desassossego deve estar forte no seu coração. Desejo luz para você, serenidade e que se encontre. E aceite ser o cara incrível que é. Do amor que sinto para o amor que nega. Saudade.


Da sua pequena mulher com o tamanho certo
Para o homem de alma, estatura e coração enormes


Um texto que é inspirador para esses momentos é esse incrível e lindo da Daniela Lusa, que sabe o que escreve. E de quem escreve. 
http://confrariadostrouxas.com.br/2014/11/das-cartas-que-nao-precisariam-ser-escritas.html

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