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O Clube do ciúme (e do ridículo)



Ciúme, esse demônio que sai de uma sombra qualquer e nos atormenta. Que faz ver o que não há e maximizar um situação inexistente. Que faz salvar a foto da ex e analisar mil vezes para descobrir cada detalhe ridículo da pessoa. Que faz ver situações que nunca aconteceram, entender mal uma frase ou destilar veneno na amiga lésbica do cara. Que ocasiona discussões inúteis e, muitas vezes, dolorosas sobre passado, presente e futuro. Que pode induzir um grau tão elevado de insegurança e demolir com a boa convivência. Que faz bisbilhotar a vida de cada amiga nova adicionada nas redes sociais e cada bunduda gostosa que dá oi na rua. Que faz você se acreditar tão menos do aquela ou essa ou outra que cruzou, cruza ou jamais cruzará pela vida do pobre coitado (isso serve para relações hétero ou homossexuais). É, amiga (o) ciumenta (o): precisa ser santo ou parente dele para aguentar esse rojão.

O complicado é quando os dois são doentes de tão ciumentos. Daí é uma guerra, queda de braço sem fim e sem objetivo. Uma cobrança de fidelidade absoluta em pensamentos, ações e o ridículo do ridículo: a pessoa acredita ser o passado uma traição. Como é? Sim, existe essa aberração, atire a primeira pedra se você nunca passou por isso. D-U-V-I-D-O. Obviamente que é na adolescência que mais acontece. E muitas pessoas que conheço espicharam a adolescência por uns vinte, trinta ou quarenta anos. Casais que se infernizam mutuamente, no afã de uma exclusividade absoluta, são doentes. Tudo bem que adoecemos por alguns momentos, mas é preciso recobrar a razão. Assumo ser ciumenta e consigo me controlar a maior parte do tempo. Até que meus neurônios entram em colapso ou a TPM dá as caras, daí é o (quase) caos. Imagina se o cara for na onda. Em uma relação que tive, ele me contava ter ficado anteriormente com a fulana, beltrana e ciclana, muitas são minhas conhecidas. Quando atingi o ápice da irritação (e engasguei com as pererecas engolidas a seco) resolvi dar o troco  e veio a guerra. Ele ficou furioso por descobrir alguns amigos dele entre minhas vítimas (eu sabia do fato). Percebeu? Um casal ciumento sempre tem a provocação mútua como fator e isso não é bom. Jamais teste seu parceiro, jamais disfarce sua baixa auto-estima com a fama de conquistador (a). Não vale a pena todo o incômodo.

Quer outra atitude ridícula? Uma amiga, já bem vivida, quando tem algum cara, não atende as ligações que NÓS, amigas dela, fazemos para que o dito pense ser algum outro elemento masculino. Motivo? Causar ciúme. Entretanto, se a guerra ou o julgamento errado chegam, ela se ofende. Afirma que não gosta de brigas, é da paz. Sei. E, detalhe, recentemente, ou insinua sair com outros ou fala abertamente que tem alguns homens que encontra na semana. Aiaiaiai. Desenhe essa figura. Provocar ciúme é atitude de quem tem baixa auto-estima, de quem não se acredita interessante o suficiente para despertar e manter o interesse de alguém. Viver no limiar do caos, na guerra de egos, pode atingir limites exorbitantes, transformar em obsessão e posse. O ciúme é uma condição desenvolvida desde tenra idade, tanto em nós mamíferos primatas bípedes humanos, quanto em outras espécies. É uma "garantia" de obter a atenção e cuidados necessários, desde que tenha limites bem estreitos. Quando é o centro da relação, com amizades, familiares ou parceiros, ultrapassa o limite e tumultua a convivência.

O incrível de um tipo de ciumento é detestar ser alvo de ciúme. Alguns realmente confundem essa tentativa de controle com afeto, a maioria (eu entre eles) não gosta de responder aos inúteis questionamentos e intermináveis motivações vãs percebidas pelo outro (dar satisfação da minha vida é o fim da picada). Alguns ciumentos, a pior categoria, provoca o outro e esmiuça a vida da criatura em consultas ao telefone, mensagens, alguns trocam senhas de e-mail, redes sociais ou outro sistema de troca de mensagens. Um horror! É muita neurose, muito controle, muita manipulação. Tive um namorado que se queixava da atenção que dou ao meu cachorrinho! É um inferno ter ciúme e ser alvo dele. Relações que se pautam por esse elemento são doentes e neuróticas. Um ciuminho de nada até passa, mas aquele ataque frontal, lateral e insistente é terrorismo disfarçado de sentimento, convenhamos.

Amar é dar vexame, pode ser. Mas que seja um vexame calculado, sem riscos sérios de derrocada da relação ou de se transformar na louca insana matando em pensamentos e fazendo escândalo publicamente. Que o amor seja paz e leveza, não um redemoinho de emoções doentias, nada edificantes ou carinhosas. Se for para sentir ciúme, que seja da bunda sem celulite da atriz da novela, sem dar chilique quando o bofe pensar que a bunda dela é muito gostosa. Que seja um ciuminho de leve quando aquela loira fatal passar por vocês, quando aquele homem lindo, bem sucedido e cheio de si cruzar por vocês. Sem comparações inúteis, lógico. Nunca esqueça de que ele ou ela está como você, que é em sua boca que se perde beijando, que é sua pele em que a língua se esbalda, que é por você que ele levanta do sofá à meia noite e compra um bombom para acalmar sua TPM. É para você que ela prepara uma massagem relaxante. Não há amor sem um tantinho de dor, de crescimento. Amor amigos, é para os maduros, os adultos, que sabem ser essa planta difícil de florescer e que precisa de tempo, muito tempo para surgir. E carinho, respeito. Menos ciúme e implicâncias inúteis, mais amor, por favor.



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