Pular para o conteúdo principal

Ela não sabe sonhar



Esse texto é livremente inspirado em uma pessoa aqui, outra ali, com pitadas de licença poética. É o tipo de gente que deixa passar o que há de bom em cada instante, se prendendo aos poucos que são diversos dos seus desejos. Eu tenho a teoria de que não sabem sonhar, pois não aprenderam que a vida é tombo, um atrás do outro e o legal disso tudo é quando nos levantamos. Olhar para cima e perceber quão lindo é o céu azul ou cinza, as pequenas histórias que transcorrem ao nosso lado na rua, no trabalho, no mercado. São pessoas que não se prendem a tudo que dá certo, apenas ao que não foi exatamente como queriam. Sei, você dirá que alguém assim é manipulador, mimado, quer atenção. Talvez sim, mas provavelmente o mal seja não valorizar as pessoas e as situações como deveria. Auto-confiança é decorrência de auto-estima, o que disfarçam bem, mas sei que não têm. 

Gente assim não está à vontade na própria pele. Reclama do egoísmo dos outros, mas deixa de ir na despedida de uma amiga querida para beber cerveja no bar perto com outra que conheceu ontem. Diz que os homens do onde vive são fracos, limitados e frescos, mas não aceita sua aparência física e se deprime. Quer horizontes largos e distantes e não faz o mesmo com o seu. Procura longe o que encontrará apenas por dentro de si, se revirasse o labirinto emocional que é. Ou está em festa ou em casa remoendo situações e pessoas que talvez nem fossem tão bons assim. Se apega a aparências, mas quer essência. Fala em amor, mas não o prática de melhor maneira: na sutileza. Quer aconchego, mas vira noites e dias em bebedeiras e festas ou outra muleta qualquer que faça uma pessoa assim fugir dos seus dilemas.


Sonhar é ótimo e deveria ser regra. O problema (ou solução dos sonhos) é que exigem disciplina, racionalidade e coragem. Realizar todos é impossível, mas alguns que aconteçam, por menores que sejam, fazem um barulho danado em nosso coração. Sonhos são grandes quando estão em nossa mente, mas diminuem um tanto em estatura quando se materializam. Dificilmente serão exatamente como esperamos, mas que sejam possíveis, tangíveis, viscerais. Enchem de orgulho o peito e assustam por mostrar onde precisamos melhorar e que apenas o desejo não move montanhas, a vontade sim. Precisamos estar preparados para quando não for o ideal ou a conclusão acontecer. E para as consequências deles. Os sonhos realizados tem o poder de mostrar quão limitados somos e o tanto de esforço necessário para uma felicidade palpável.

Envolver alguém em sonhos tão nossos é a receita para que algo dê errado. Sonhar junto é ótimo, desde que a pessoa também o faço e assuma sua parcela de responsabilidade na consecução do sonho. No entanto, enfiar alguém ali no sonho, sem que saiba ou concorde, jamais dará certo. Talvez por isso os relacionamentos das pessoas que me inspiram a escrever esse texto sejam tão desconexos. Querem a grandiosidade, a euforia e a risada sempre, mas sonhos são trabalhosos e causam preocupação durante o trajeto. Ter um sonho de amor, por exemplo e enfiar alguém que se conhece tão pouco ali é o caminho para a decepção. Antes de partir para o sonho, é preciso muita coragem, uma dose de risco calculado e fé. Fé em si, principalmente, fé de que na adversidade conseguiremos crescer e progredir. Evolução é, ao meu ver, a meta principal para um sonhador de sucesso. 

Por fim, acrescento que os otimistas talvez são os que sonhem melhor, não os perfeccionistas ou quem quer sempre o inatingível. O otimista não se verga, pode desesperar em algum momento, mas sempre se reergue. Sonhar, então, não seria para qualquer um? Se você não aguenta a concretização do sonho e a realidade de que o sonho está ali, se não tolera os tropeços ou os imprevistos que acontecem, você não sabe ou desaprendeu a sonhar. Ou então sonha, mas a coragem para concretizar foge ou sonha apenas com as distâncias e os delírios. É preciso saber sonhar. Os melhores sonhadores são aqueles que caminham entre as nuvens, mas não tem medo de cair, pois sabem voar. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu em mim

Eu estive aqui ontem. Hoje, sou outra a surgir. Eu estive aqui há um mês. Hoje, não quis voltar a dormir. Eu estive lá há um ano. Voltei agora e eu não sou o mesmo lugar. Eu me apaixonei há quatorze meses. Hoje, sou outra e não amo. Eu amei profundamente há três anos. Hoje, lembro com um afeto intenso, mas é outro o coração que pulsa. Eu me namoro hoje. Há oito meses queria morrer. Não sou a mesma em mim, mas somos as mesmas em processo de mudança. A Claudia melancólica, a Claudia fechada, a Claudia vibrante, a Claudia sombria, a Claudia falante. A Claudia quieta. A Claudia poeta. A Claudia que é a água de um rio, o sopro do vento, a chama da vela e a floreira da orquídea. A Claudia que me habita e a quem amo muito. A desesperança e o desânimo são intangíveis e impermanentes.  Meu amor por mim é árvore, que cresce um pouco todos os dias. Sou eu em mim, na mudança do hoje e do amanhã.

Manual da TPM para homens

Caro Homem Moderno, você precisa de umas dicas para sobreviver à nossa TPM. Sabemos que, para você, é uma verdadeira odisseia passar seus dias e noites com uma mulher que oscila de humor e atitude ao menos uma vez por mês. A primeira delas é: tenha juízo e caia fora. Mantenha distância absoluta, ainda mais se você não for o tipo de cara que sabe lidar com diferenças. Já entendi que você ignorou meu primeiro conselho, então, não reclame. Deixou de lado o bom senso e permaneceu por perto de uma mulher em TPM. Apesar do meu aviso, resolveu ficar ali, cuidando e acariciando sua linda amostra do Apocalipse. Para que você consiga passar indefinidamente por esse período com o mínimo de danos, recomendarei algumas atitudes muito salutares (ao menos para você). Entenda o princípio  de tudo. Sofremos todos os meses um bombardeio hormonal a fim de ovularmos e, posteriormente, menstruar. Não é fácil a tempestade emocional de uma mulher, afora os eventuais desconfortos físicos, como cól

Meio ogra, inteira sua

Poderia me descrever de várias maneiras, exaltar minhas qualidades e fazer você acreditar que sou a Branca de Neve esperando pelo seu príncipe, o que não é verdade. Para começar, digo a você que sou meio ogra, grossa e desastrada, que ando avoadamente nas ruas e, algumas vezes, quase fui atropelada. Posso comentar, inclusive, sobre minhas TPMs ferozes e que não saberá se chorarei ou terei raiva de alguma situação. Mulher-Iceberg, tenho um coração que se derrete mas que também congela. Impulsiva quando o sangue ferve, quando resfria vem a calma e o arrependimento. Não pergunte o que sinto, perceba quem sou. Observe minhas janelas verdes e saberá cada nuance das minhas emoções e onde escondo os sentimentos, siga meus passos e descobrirá a caverna escura onde me escondo. Posso afirmar que gosto de gente, mas adoro ficar sozinha. Gosto de cuidar dos outros, mas preciso e muito que cuide de mim. Não uso biquíni, não viu à praia, não gosto de areia e não me bronzeio, embora, mo